“The Cloverfield Paradox” apresenta uma narrativa que se apropria das inquietações modernas, expondo-as em uma ficção científica que mistura suspense e terror. O diretor Julius Onah se apoia na estética espacial cinematográfica construída há décadas, absorvendo referências de mestres como James Cameron (“O Segredo do Abismo”), Andrei Tarkovski (“Solaris”), e Stanley Kubrick (“2001 — Uma Odisseia no Espaço”). Porém, longe de ser apenas um exercício de estilo, o filme ressoa com as ansiedades atuais: crises energéticas, tensões políticas e a imprevisibilidade do destino humano.
A trama se desenrola em um futuro onde a Terra, em colapso energético, aposta em uma missão espacial para encontrar soluções. No epicentro está Ava Hamilton, interpretada por Gugu Mbatha-Raw, uma cientista dedicada que tenta preencher o vazio da perda através do trabalho. A bordo da estação espacial, a tripulação internacional é um microcosmo de conflitos e desconfianças, refletindo as fissuras de um mundo à beira do abismo. A paranoia de Volkov, vivido por Aksel Hennie, e a calculada frieza de Schmidt, em uma atuação precisa de Daniel Brühl, trazem camadas de tensão essenciais ao desenvolvimento da trama.
Embora o roteiro de Oren Uziel não se destaque pela originalidade conceitual, a execução dos temas — desde a competição geopolítica até o esgotamento dos recursos — oferece uma visão atualizada das distopias contemporâneas. O caos se intensifica conforme o desenrolar dos eventos, reforçado pela omissão dos que poderiam agir e pela conivência daqueles que buscam apenas benefício próprio. Nesse cenário, a esperança parece um recurso tão escasso quanto a energia que impulsiona a nave.
A conexão com os filmes anteriores da franquia é sutil, optando por não amarrar diretamente todos os fios narrativos. No entanto, esse isolamento permite que “The Cloverfield Paradox” funcione como uma peça autônoma que explora o desconhecido e o inevitável fracasso da humanidade em seus momentos de maior ambição. A perda e o desespero são palpáveis, mas também há espaço para a resiliência, que emerge nos intervalos entre o medo e a destruição.
Em última análise, o filme reflete uma humanidade desgastada por sua própria busca por poder e sobrevivência. Ele deixa a inquietação de que, enquanto não formos capazes de transcender nossas falhas e paranoias, estaremos à deriva, não apenas no espaço sideral, mas em nossa própria existência. A solução para o paradoxo pode estar não no fim do universo, mas dentro de nós mesmos.
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