O filme que é um abraço em dias difíceis: 101 minutos para aquecer o coração Divulgação / Millennium Entertainment

O filme que é um abraço em dias difíceis: 101 minutos para aquecer o coração

Erra-se inúmeras vezes ao longo da vida, mas poucos têm a coragem necessária para transformar um deslize na reviravolta que sempre esteve por vir. Eugene Brown demorou a entender que sua existência tinha propósito — uma revelação tardia e dolorosa. Após um assalto a banco que lhe rendeu dezoito anos atrás das grades, Brown poderia ter aceitado o fracasso como seu destino final. No entanto, ele escolheu recomeçar, abraçando um hobby cercado de estigmas e elitismo, um jogo que seleciona seus adeptos com rigor quase cruel: o xadrez. Justamente por isso, a decisão de Brown se torna ainda mais extraordinária, aproximando-o daqueles que mais necessitam de um exemplo positivo.

Em “Jogada de Rei” (2023), dirigido por Jake Goldberger, a trajetória de Brown é retratada com uma mistura pungente de brutalidade e poesia. A narrativa, tão impactante quanto despretensiosa, captura a atenção justamente por sua simplicidade crua. Lançado originalmente uma década atrás, o filme colocou Eugene Brown sob os holofotes, e ele usou essa notoriedade de forma construtiva. Visitando escolas secundárias por todo o país, Brown se tornou uma inspiração para jovens, incentivando-os a enxergar no xadrez uma metáfora para escolhas prudentes e planejadas — uma estratégia de vida mais eficaz que o risco impulsivo.

O roteiro de Jake Goldberger, em parceria com Dan Wetzel e David Scott, mantém o foco inabalável na transformação do protagonista. As cenas passadas na prisão, surpreendentemente, não possuem o peso esperado para um drama desse gênero. O verdadeiro impacto emerge após sua libertação, quando Brown encara tentações que poderiam arruinar sua nova chance de redenção. A figura de Perry, ex-protegido que agora lidera uma rede de tráfico, personifica essa encruzilhada. Richard T. Jones interpreta Perry com a exatidão necessária para representar tudo o que Brown deseja evitar. A dinâmica entre os dois fortalece o enredo, criando uma tensão que conduz boa parte da narrativa.

Recusando o caminho fácil do crime, Brown agarra cada oportunidade que lhe surge. Consegue um emprego como zelador em uma escola secundária, administrada pela íntegra e compassiva Sheila King, papel brilhantemente interpretado por LisaGay Hamilton. Brown ousa distorcer a verdade sobre seu histórico criminal, e sua atitude determinada desperta a confiança de Sheila, que lhe dá o cargo de inspetor do setor mais problemático da escola. Lá, ele encontra jovens que refletem sua própria luta e desespero — um vínculo profundo e não declarado.

Cuba Gooding Jr. entrega uma atuação magistral como Eugene Brown. Sua interpretação capta com precisão o espírito de um homem assombrado por erros passados, mas motivado a transformar dor em propósito. Gooding Jr. troca o carisma impulsivo de Rod Tidwell, seu papel icônico em “Jerry Maguire: A Grande Virada” (1996), por uma gravidade emocional que sustenta o filme. A cena em que Brown aposta ousadamente com Tahime, interpretado por Malcolm Mays, para então introduzir os jovens ao xadrez, exemplifica seu comprometimento em mudar o futuro daqueles que a sociedade abandonou.

“Jogada de Rei” não é apenas sobre xadrez, mas sobre estratégias de vida, decisões ponderadas e a busca incessante por segundas chances. A história de Eugene Brown nos lembra que, mesmo nos momentos mais sombrios, é possível redefinir nosso destino, uma jogada de cada vez.

Filme: Jogada de Rei
Diretor: Jake Goldberger
Ano: 2013
Gênero: Drama
Avaliaçao: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★