Uma ousada releitura dos clássicos contos de fadas, “Donzela”, dirigido por Juan Carlos Fresnadillo, indicado ao Oscar por “Esposados” em 1997, coloca Millie Bobby Brown no centro de uma narrativa repleta de tensão e reviravoltas. A trama, disponível na Netflix, explora temas de sobrevivência e emancipação feminina, ambientados em um universo visualmente deslumbrante, mas moralmente sombrio.
Elodie (Brown) vive em um vilarejo assolado pela pobreza, onde sua família, como o restante da comunidade, enfrenta a constante escassez de recursos. Quando a Rainha Isabelle (Robin Wright) aparece com uma proposta de casamento envolvendo o príncipe Henry (Nick Robinson), Lord Bayford, o patriarca da família, prontamente aceita, na esperança de salvar sua filha e o vilarejo. Apesar disso, Elodie hesita. Crescida em liberdade ao lado de sua irmã Floria, ela não se vê como uma peça de barganha. Ainda assim, o peso das expectativas familiares e a promessa de um futuro mais promissor para sua terra natal a fazem ceder.
Ao chegar ao castelo, Elodie sente uma mistura de apreensão e curiosidade. Embora a grandiosidade do reino seja fascinante, algo parece fora de lugar. Entretanto, ao conhecer Henry, a tensão inicial dá lugar a uma inesperada afinidade. O príncipe demonstra um encanto irresistível, e, juntos, eles compartilham momentos que fortalecem o vínculo, como um passeio a cavalo por paisagens majestosas. Essa aparente harmonia, no entanto, começa a ser questionada por Lady Bayford (Angela Bassett), que tenta advertir Elodie sobre a estranha atmosfera que envolve o castelo e a Rainha Isabelle.
O casamento acontece, mas em vez de marcar o início de um conto de fadas, dá início a um pesadelo. Após a cerimônia, Elodie é brutalmente traída e lançada por Henry em um abismo. Sua queda a leva a uma floresta árida, lar de um dragão feroz, cuja fúria é alimentada por um ritual macabro: o sacrifício de jovens donzelas. Avisada de que sua vida está prestes a terminar como a de tantas outras antes dela, Elodie descobre que terá de lutar sozinha para sobreviver.
A jornada que se segue é uma poderosa ode à resiliência. Em um mundo onde as aparências enganam e a força das mulheres é constantemente subestimada, Elodie se reinventa. Transformando sua fragilidade aparente em uma força implacável, ela enfrenta não apenas o dragão, mas também as limitações impostas por uma sociedade que a viu apenas como uma peça de negociação.
“Donzela” desconstrói os moldes tradicionais das histórias de princesas, oferecendo uma visão mais sombria e visceral do gênero. Millie Bobby Brown entrega uma performance magnética, conduzindo o público em uma narrativa que, embora flerte com elementos de fantasia, carrega mensagens contemporâneas sobre empoderamento e superação.
“Donzela” não é apenas um conto sobre batalhas externas, mas um reflexo das lutas internas de muitas mulheres em busca de seu espaço e liberdade. Com uma direção ousada e uma atuação brilhante de Brown, o filme transcende as expectativas de uma sessão da tarde, mostrando que nem todos os finais felizes são entregues em bandejas de prata — alguns são conquistados com sangue, suor e coragem.
★★★★★★★★★★
