Hipnótico, alucinante e implacável: o filme mais intenso da Netflix Divulgação / Alamode Film

Hipnótico, alucinante e implacável: o filme mais intenso da Netflix

Em um Irã sufocado por leis religiosas e opressão feminina, a história de Mahsa Amini simboliza uma nação à deriva na intolerância. Detida por exibir parte do cabelo sob o hijab, Amini morreu sob custódia policial poucos dias antes de completar 23 anos. Sua morte não foi ignorada, mesmo sob o regime repressivo instaurado pelo aiatolá Ruhollah Khomeini e hoje mantido por Ali Khamenei e Ebrahim Raisi.

Ali Abbasi, em “Holy Spider”, traz essa violência à tona com um realismo inquietante. Inspirado em eventos verídicos, o filme acompanha o caso de um assassino de prostitutas em Mashhad, cidade próxima às fronteiras com o Afeganistão e o Turcomenistão. Enquanto Saeed — interpretado com frieza por Mehdi Bajestani — elimina mulheres usando o próprio hijab como instrumento de morte, a repórter Arezoo Rahimi (vivida por Zar Amir Ebrahimi) luta para expor a história.

A jornada de Rahimi é marcada por empecilhos burocráticos e machismo estrutural. Desde o check-in no hotel até suas visitas aos escritórios de segurança, ela se depara com uma cadeia de humilhações e desconfianças. Abbasi captura a sordidez desse processo em cenas tensas, nas quais cada interação masculina revela uma tentativa de inferiorizá-la. Mesmo os policiais, em teoria defensores da ordem, manifestam visões distorcidas do dever e do respeito.

O antagonista, Saeed, representa uma dicotomia perturbadora: um chefe de família comum que à noite se transforma em um predador impiedoso. Seu método cruel, estrangulando as vítimas com o próprio lenço que deveriam usar para “preservar a moralidade”, é uma sátira sombria da dominação religiosa e cultural que rege o país. Abbasi não poupa detalhes em suas cenas de assassinato, expondo a brutalidade de um fanatismo que se perpetua através das gerações.

“Holy Spider” não apenas retrata um crime; ele denuncia uma sociedade inteira conivente com a violência contra mulheres. A conclusão impactante sugere que o ódio e a intolerância são heranças transmitidas de pai para filho, cimentando um ciclo de barbárie que parece longe do fim. Abbasi constrói um espelho áspero da realidade iraniana, onde a busca por justiça é uma luta inglória e o fanatismo é um vírus social.

Ao fim, “Holy Spider” não é apenas um thriller de suspense, mas um manifesto cinematográfico contra a opressão sistemática e a misoginia institucionalizada. O filme provoca, desafia e expõe a urgência de resistir a um sistema que, em nome da moralidade, perpetua o horror.

Filme: Holy Spider
Diretor: Ali Abbasi
Ano: 2022
Gênero: Crime/Thriller
Avaliaçao: 9/10 1 1
★★★★★★★★★