Alison Spencer tem tudo o que muitos adolescentes sonham: uma família amorosa, amigas fiéis e um namorado devotado. No entanto, um evento traumático recente lança sua vida em um abismo de confusão. De repente, as inseguranças próprias da juventude se intensificam, e aquilo que parecia concreto se desfaz em uma nuvem de dúvidas corrosivas. Como cupins silenciosos destruindo uma casa, essas incertezas minam sua estrutura emocional até que o colapso se torna iminente. Nem todos resistem a essa avalancha de provacões, e a protagonista de “O Sentido da Vida” é testada por um destino que parece querer arrancar dela qualquer vestígio de segurança.
Sob a direção de Nicholas DiBella, o filme transforma uma premissa conhecida em uma experiência rica e tocante. O roteiro, escrito em parceria com Paul Root, explora com sensibilidade a vontade desesperada de Alison de se agarrar a uma identidade que lhe escapa. O acidente de carro, embora apenas sugerido, deixa marcas profundas e invisíveis: uma amnésia traiçoeira que a impede de reconhecer rostos familiares e de acessar fragmentos de sua história.
Andrea Figliomeni, no papel de Alison, entrega uma performance sutil, mas devastadora. Sua personagem se debate contra um inimigo invisível — sua própria mente. Mesmo mantendo habilidades cotidianas, como falar e dirigir, a ausência de memórias afeta sua percepção de si mesma e dos outros. Ethan, interpretado por Michael Pavone, é o namorado cuja devoção parece agora deslocada em um cenário de estranhamento. Já Lexi e Heather, vividas por Emma Jessop e Tyler Aser, fazem o que podem para apoiá-la, mas, sem querer, se tornam mais um obstáculo em sua recuperação.
O ponto de virada ocorre com a chegada de Cameron, um jovem problemático interpretado por Winter Andrews. Apesar de sua reputação conturbada, é ele quem consegue enxergar a Alison real sob as camadas de desespero. Cameron, porém, não é o delinquente que todos imaginam; ele também luta para sobreviver às tempestades da juventude e aos conflitos familiares. A amizade improvável entre os dois oferece um vislumbre de esperança, mesmo quando o romance não se concretiza.
DiBella conduz a narrativa com maestria, equilibrando o sofrimento de Alison com momentos de lucidez e resiliência. O filme evita clichês melodramáticos, optando por um desenvolvimento orgânico e honesto. Alison não ignora sua dor; ela a vive, confronta e quase sucumbe a ela. Essa fragilidade constante é o que torna sua jornada tão autêntica e identificável.
“O Sentido da Vida” se destaca por seu final ambíguo, recusando soluções fáceis. Alison sobrevive à tragédia inicial, mas sua batalha está longe de terminar. A mensagem é clara: sobreviver é apenas o começo. A verdadeira luta é encontrar sentido em meio às ruínas daquilo que um dia foi uma vida perfeita. E nessa busca, todos podemos nos ver refletidos, tentando reconstruir nossas histórias com os fragmentos que restam.
★★★★★★★★★★