Sangue frio e tensão máxima: Samuel L. Jackson e Michael Keaton transformam cada segundo em um teste de nervos na Netflix Divulgação / Lionsgate

Sangue frio e tensão máxima: Samuel L. Jackson e Michael Keaton transformam cada segundo em um teste de nervos na Netflix

Um homem bastante crescido estabelece um contato insólito e pouco amistoso com uma garota e trinta anos mais tarde os dois estão juntos, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, tocando negócios escusos, até que a morte se faz anunciar. Não, pelo que se assiste em “A Profissional”, o relacionamento dos dois mantém-se na esfera da, digamos, afinidade corporativa, com uma margem folgada para sentimentos correlatos aos de pai e filha, argumento surrado que Martin Campbell aproveita como pode. Já na primeira cena, o texto de Richard Wenk também volta três décadas e lembra “O Profissional” (1994), no masculino, Luc Besson; tudo segue mais ou menos a trilha do francês, com sequências nas quais o tutor e a pupila avançam pelo tempo faturando milhões de dólares ao fim de cada trabalho, até que um terceiro elemento igualmente destrutivo interfere na paz caótica deles.

No já distante ano de 1991, em Da Nang, na região central do Vietnã, Anna Dutton esconde-se no armário de um galpão repleto de cadáveres quando é descoberta por Moody, um assassino perverso dado a arroubos de humanidade ocasionais. Esse primeiro encontro poderia ter acabado em tragédia, uma vez que os dois apontavam um para o outro suas armas; entretanto, como feras selvagens capazes de farejar as intenções ocultas por trás dos gestos, Moody inspira a confiança de Anna, e os dois saem dali. Campbell encerra o flashback levando o filme para Bucareste, na Romênia, quando Anna é a peça mais importante do tabuleiro de uma quadrilha internacional e, quase ao mesmo tempo, Moody é vítima de um acerto de contas. Malgrado curtas, as interações entre Maggie Q e Samuel L. Jackson prestam-se a um fornido prólogo para as futuras escolhas de Anna, decidida a enfrentar suas piores lembranças e regressar ao Vietnã para satisfazer seu desejo de vingança. Mas, claro, nem tudo sai como deveria.

Um outro gângster entra na história e arrasta Anna para um turbilhão de sentimentos dos quais ela queria distância. Trata-se de Rembrandt, o bilionário interpretado por Michael Keaton, sempre razoável nesses papéis de cavalheiros refinados e sombrios desde o “Batman” que Tim Burton levou à tela em 1989. Keaton, hábil em conferir substância a tipos naturalmente rasos, seduz Anna e o espectador ao mostrar e cobrir de véus as pretensões de Rembrandt, e o diretor sabe dotar de matizes os diálogos a fim de amenizar a atmosfera sangrenta, com a providencial ajuda da editora Angela Catanzaro, que sublinha as tomadas de luta entre Anna e seu doce carrasco, um septuagenário com fôlego de super-herói. Lamentavelmente, a brincadeira não resiste à necessidade de reviver lugares-comuns, feito o clássico jantar num restaurante caro, com pistolas engatilhadas sob a mesa.  

Filme: A Profissional
Diretor: Martin Campbell
Ano: 2021
Gênero: Ação/Thriller
Avaliaçao: 7/10 1 1
★★★★★★★★★★
Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.