Em “O Preço da Verdade”, Todd Haynes conduz o espectador a uma intricada batalha judicial inspirada em eventos reais, ambientada na pequena Parkersburg, West Virginia. A trama se desenrola quando Wilbur Tennant (Bill Camp), um fazendeiro local, procura o advogado corporativo Rob Bilott (Mark Ruffalo) com suspeitas de que a gigante química DuPont esteja contaminando o meio ambiente e exterminando seu rebanho. Ao aceitar investigar o caso, Bilott se depara com um cenário alarmante: dezenas de bovinos mortos e águas visivelmente poluídas, evidências de uma situação muito mais grave do que ele poderia imaginar.
A investigação de Bilott descortina um segredo perturbador. A DuPont despejava deliberadamente resíduos químicos tóxicos, incluindo o ácido perfluorooctanóico (PFOA), um componente essencial para a produção de teflon. Conhecido por sua resistência e toxicidade, o PFOA não apenas contamina o solo e a água, mas também se acumula no organismo humano, causando doenças graves, como câncer, e contribuindo para o nascimento de crianças com defeitos congênitos. O que começa como uma questão ambiental logo se transforma em uma cruzada moral, com Bilott enfrentando não apenas uma corporação imensamente poderosa, mas também desafios internos no seu próprio escritório de advocacia.
A luta de Bilott contra a DuPont revela-se uma verdadeira maratona de perseverança. Dotada de recursos ilimitados e apoiada por um exército de advogados, a multinacional utiliza todas as ferramentas disponíveis para prolongar a disputa judicial. O advogado, no entanto, encontra forças para continuar ao testemunhar os danos devastadores que a contaminação causa às famílias da região. A narrativa do filme captura não apenas o drama judicial, mas também os efeitos humanos de uma tragédia ambiental: o sofrimento de comunidades inteiras, adoecidas pela ganância empresarial.
Para dar vida à intensidade dessa batalha, Mark Ruffalo mergulhou profundamente no papel, dialogando extensivamente com o verdadeiro Rob Bilott. Seu compromisso com a autenticidade está refletido em sua performance visceral, que confere humanidade à figura do advogado. O elenco de apoio é igualmente robusto, com nomes como Anne Hathaway, Tim Robbins, Bill Pullman, Victor Garber e Mare Winningham, que entregam atuações que complementam a profundidade emocional da história. Mesmo com um orçamento modesto de 11 milhões de dólares, a produção não recorre a artificiais grandiosidades visuais, mas aposta em uma narrativa que prioriza substância e impacto.
A opção por uma estética sombria é destacada pela fotografia meticulosamente elaborada, que traduz o peso emocional e moral da história. O roteiro, por sua vez, conduz a trama com rigor, explorando cada reviravolta do caso judicial enquanto enfatiza a coragem de Bilott e a negligência da DuPont. A empresa, além de se recusar a colaborar com a produção do filme, torna-se o centro de uma crítica contundente sobre a falta de ética corporativa e as consequências do capitalismo desenfreado.
O impacto de “O Preço da Verdade” transcende sua trama. Com 89% de aprovação no Rotten Tomatoes, o filme conquistou tanto a crítica quanto o público, despertando reflexões urgentes sobre responsabilidade ambiental e justiça social. Sem apelar para clichês ou dramatizações excessivas, a obra evidencia como escolhas individuais podem expor verdades ocultas e provocar mudanças significativas. Todd Haynes entrega um filme que não é apenas uma história de coragem, mas um apelo à conscientização coletiva em tempos de crises ambientais e sociais cada vez mais alarmantes.
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