“Medieval”, dirigido por Petr Jákl, é uma reconstrução cinematográfica da vida de Jan Žižka de Trocnov (c. 1360-1424), um gênio militar cujo nome ecoa na história como o defensor incansável do orgulho checo. À frente das tropas que lutaram na conturbada Boêmia medieval, marcada por disputas incessantes entre impérios e doutrinas religiosas, Žižka consolidou sua reputação como um estrategista feroz, invicto em todas as batalhas que liderou. Nascido em um período de turbulência, ele soube transformar o caos em oportunidade, tornando-se um dos primeiros a idealizar a concepção de um exército nacional, composto por concidadãos que compartilhavam um objetivo comum.
A narrativa, no entanto, se afasta da crueza dos fatos históricos e mergulha em um retrato quase mítico. Sob o roteiro de Jákl e de seu pai, Petr Jákl Sr., a figura de Žižka é elevada a um símbolo de rebeldia e justiça, um “santo insubmisso” em meio à brutalidade dos campos de batalha. Não se trata de uma biografia neutra, mas de um épico apaixonado que tece loas ao protagonista. Esta opção por uma abordagem mitificada é realçada pela fotografia sombria de Jesper Tøffner, que abusa de tons azuis e verdes profundos para criar uma atmosfera gótica e opressiva, adequada às intrigas e à violência desenfreada que permeiam a história.
Ben Foster, no papel de Žižka, é o pilar que sustenta a trama. Mesmo com um texto limitado em profundidade, ele injeta uma humanidade convincente no guerreiro implacável. Por outro lado, o desperdício de Michael Caine como o Lord Boreš é gritante; sua presença clama por relevância em um roteiro que pouco lhe oferece. As sequências de combate, no entanto, compensam parte das falhas. Coreografadas em detalhes minuciosos, essas cenas sangrentas são a espinha dorsal do filme, capturando o vigor das tropas de Žižka com intensidade visceral.
Em resumo, “Medieval” é uma celebração visual e emocional de um homem que, talvez, tenha transcendido os limites entre o heroísmo e a brutalidade. Apesar de suas falhas narrativas, a obra fascina pelo magnetismo de seu protagonista e pela força estética que invoca, deixando uma marca indelével na tela e na memória do espectador.
★★★★★★★★★★