“As Cores do Mal: Vermelho” mergulha em uma atmosfera densa e perturbadora que ecoa os mistérios imortais de Agatha Christie. Quase cinco décadas após a morte da “Dama do Crime”, o diretor Adrian Panek nos conduz por um emaranhado de intrigas onde cada detalhe, cada silêncio e cada sombra podem ocultar segredos fatais. Inspirado no romance “Czerwień” (2019), de Małgorzata Oliwia Sobczak, o filme é um thriller policial que explora o lado sombrio de uma sociedade contaminada pelo poder e pela corrupção.
No epicentro da trama, está Leopold Bilski, um detetive que precisa desvendar um assassinato ocorrido em Tricidade, região costeira composta por Gdańsk, Gdynia e Sopot, no norte da Polônia. Uma jovem é encontrada morta à beira do mar Báltico — sua pele fria e sem vida revela uma crueldade indescritível: seus lábios foram removidos. Um crime brutal, quase ritualístico, que vai muito além da superficialidade de uma simples investigação policial. Os indícios são fragmentados, e a busca pela verdade revela uma rede de relações perigosas.
Monika Bogucka, a vítima, é apresentada em um flashback que a mostra vivaz e desafiadora, bebendo em uma boate pouco antes de seu destino selado. A interpretação magnética de Zofia Jastrzębska dota Monika de uma combinação intrigante de coragem e imprudência — uma personagem cuja própria ousadia parece ter pavimentado seu fim trágico. Mesmo em suas ausências físicas, sua presença domina cada cena, permeando o filme com uma sombra melancólica.
Enquanto isso, o detetive Bilski, vivido por Jakub Gierszał, encarna a obstinação clássica dos investigadores noir. Ele vasculha a paisagem urbana sombria e melancólica de Tricidade, esbarrando em figuras enigmáticas e autoridades dispostas a silenciar verdades inconvenientes. O mar Báltico, onipresente e silencioso, é uma testemunha eterna — suas águas frias escondem tanto quanto revelam.
O ponto de virada acontece com a entrada de Helena Bogucka, a mãe de Monika, interpretada por Maja Ostaszewska. Helena é um enigma por si só, uma mulher cujo olhar carrega uma profundidade indecifável. Sua influência e astúcia fazem dela a aliada que Bilski precisa, mas também uma figura que talvez saiba mais do que revela. A dinâmica entre Bilski e Helena adiciona camadas de tensão, com cada interação transbordando de subtextos e ameaças veladas.
Adrian Panek constrói um suspense tenso e opressivo, pontuado por pequenos momentos de revelação que se encaixam como peças de um quebra-cabeça cruel. O roteiro, coescrito com Lukasz M. Maciejewski, não se limita a reproduzir a narrativa de Sobczak, mas oferece uma perspectiva cinematográfica que amplia os horrores descritos no livro. A corrupção institucional, a decadência moral e a brutalidade do submundo são retratadas com uma honestidade incômoda.
A direção de fotografia aproveita a paisagem gélida e os cenários desolados de Tricidade, criando uma atmosfera que mistura beleza e desespero. Cada enquadramento parece ecoar um sentimento de opressão e iminente perigo. O tom fúnebre e os detalhes macabros podem não ser inovadores, mas são executados com uma competência que estimula os sentidos e mexe com os nervos.
No fim, “As Cores do Mal: Vermelho” é uma investigação não apenas de um crime, mas das estruturas sociais que o permitem. Um suspense que não promete revolução narrativa, mas entrega uma experiência sombria e envolvente, digna das melhores histórias de mistério.
★★★★★★★★★★