Uma história de amor como nenhuma outra: o filme da Netflix que encantou Tarantino e Lars von Trier Pascal Chantier / Arte France Cinéma

Uma história de amor como nenhuma outra: o filme da Netflix que encantou Tarantino e Lars von Trier

Ambientado em uma França estilizada pelo esplendor do barroco, “Mademoiselle Vingança” (2018) é uma adaptação primorosa de Emmanuel Mouret baseada na obra do filósofo Denis Diderot, “Jacques, o Fatalista”. A produção deslumbra pela estética meticulosamente elaborada, com figurinos impecáveis e cenários que exaltam cores etéreas e detalhamento quase pictórico. Esse esmero visual cativa desde o primeiro instante, envolvendo o espectador em um universo onde beleza e perfídia se entrelaçam.

A trama se desenrola em torno de um triângulo amoroso composto pela astuta Madame de La Pommeraye (Cécile de France), o galanteador Marquês des Arcis (Edouard Baer) e a enigmática Mademoiselle de Joncquières (Alice Isaaz). O filme inicia com a viúva Madame de La Pommeraye confidenciando ao marquês seu ceticismo em relação ao amor, uma desconfiança moldada por histórias infelizes desde a infância. A confiança entre os dois evolui para um relacionamento apaixonado, até que os rumores da sociedade parisiense, sempre ávida por escândalos, se confirmam: o marquês abandona a viúva, frio e desinteressado, deixando-a humilhada e com o coração em ruínas.

Determinada a retaliar com precisão cirúrgica, Madame de La Pommeraye engendra um plano elaborado. Ela mantém uma fachada de amizade enquanto trama a desgraça do ex-amante. Para executar sua vingança, recruta a jovem Mademoiselle de Joncquières, uma prostituta que, sob ordens da viúva, se disfarça de donzela piedosa e inacessível. Seu rosto angelical e sua reserva calculada inflamam o desejo do marquês, que se vê cada vez mais enredado na armadilha invisível tecida pela aristocrata vingativa.

O marquês, em desespero, tenta conquistar a suposta jovem religiosa com presentes extravagantes: um colar raro, seguido por um conjunto de diamantes. Rejeitado em ambas as tentativas, ele propõe casamento — sem saber que está prestes a cair em uma humilhação pública cuidadosamente planejada. Madame de La Pommeraye pretende revelar a verdadeira identidade da noiva após a cerimônia, desferindo o golpe final na reputação do marquês, para quem o matrimônio com uma prostituta seria um escândalo insuperável.

A atuação de Cécile de France é um espetáculo à parte: sua Madame de La Pommeraye equilibra elegância e crueldade com uma sutileza arrebatadora, deixando o público em constante dilema entre admirar sua astúcia e questionar seus limites éticos. Edouard Baer incorpora com maestria a figura de um sedutor enredado em sua própria vaidade, enquanto Alice Isaaz, com uma performance silenciosa e intensa, empresta profundidade e fragilidade à jovem manipulada.

Ao final, a verdadeira vítima se revela não no marquês, mas na própria Mademoiselle de Joncquières, uma peça descartável no jogo de vingança. Mouret, com delicadeza e precisão, transforma a narrativa em uma reflexão sobre orgulho, poder e as consequências devastadoras da mágoa. Um espetáculo de beleza e vingança, “Mademoiselle Vingança” deixa uma marca duradoura ao explorar até onde a dor pode levar o coração humano.

Filme: Mademoiselle Vingança
Diretor: Emmanuel Mouret
Ano: 2018
Gênero: Comédia/Drama/Romance
Avaliaçao: 9/10 1 1
★★★★★★★★★