Alex Garland entrega, em “Guerra Civil”, uma imersão brutal e desassossegante numa América futura à beira do colapso. Com um orçamento de 50 milhões de dólares — o maior da A24 até hoje —, o longa transcende a simples crítica política e mergulha profundamente na essência do jornalismo em tempos de conflito. A narrativa acompanha um grupo de repórteres que ousa adentrar as linhas de batalha para captar a realidade em sua forma mais crua e perigosa.
Enquanto uma facção rebelde, a Frente Ocidental, avança sobre Washington D.C., o país se fragmenta entre a desolação urbana e a busca por uma normalidade ilusória nas zonas rurais. Lee Smith (Kirsten Dunst), uma fotógrafa calejada pelo horror da guerra, carrega em suas lentes mais tragédias do que poderia suportar. Ao seu lado está Joel (Wagner Moura), um repórter sul-americano determinado a obter uma entrevista inédita com o presidente em 14 meses. A dupla, representando a Reuters, forma uma aliança com Sammy (Stephen McKinley Henderson), um jornalista veterano do que restou do The New York Times, e Jessie (Cailee Spaeny), uma jovem fotógrafa inspirada por Lee.
A missão é arriscada: aproximar-se da Casa Branca onde jornalistas são vistos como inimigos. A iminente rendição do governo a separatistas oriundos de estados como Califórnia e Texas — simbolicamente opostos na política atual — adiciona uma camada de tensão constante. Garland, porém, não se limita ao contexto político. Ele expõe o lado mais sombrio do nacionalismo, evidenciado em cenas impactantes, como a de Jesse Plemons interrogando o grupo de jornalistas e revelando preconceitos latentes. O momento atinge um ápice de brutalidade quando dois repórteres asiáticos são assassinados sumariamente por não se encaixarem na definição de “americanos brancos”.
A estética visual de “Guerra Civil” presta homenagem a clássicos do gênero, como “Guerra ao Terror”, “Nascido para Matar” e “Apocalypse Now”, com uma fotografia impressionante e realismo visceral. Mais do que um thriller de guerra, o filme celebra o jornalismo de campo — uma profissão que, na visão de Garland, ainda se define pela coragem de enfrentar o caos para relatar a verdade.
As motivações do diretor encontram raízes familiares, já que Garland vem de uma linhagem de jornalistas, enquanto Wagner Moura, formado em jornalismo, empresta autenticidade ao papel. “Guerra Civil” é um lembrete contundente de que, mesmo em meio à destruição, a busca pela informação nunca deixa de ser um ato de resistência.
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