Se apaixone mais uma vez com um dos romances mais amados dos últimos 15 anos, no Prime Video John P. Johnson / Summit Entertainment

Se apaixone mais uma vez com um dos romances mais amados dos últimos 15 anos, no Prime Video

“Cartas para Julieta” é um daqueles filmes que celebram o amor em sua essência mais pura, entrelaçando paixão, nostalgia e aquele toque de loucura que, frequentemente, desafia o senso comum. Gary Winick, em um trabalho que flerta com a fantasia e o lirismo, entrega um longa que, mais do que contar uma história, abraça a emoção humana com imagens que evocam serafins, pinturas renascentistas e ecos cinematográficos do passado. Sua abordagem visual é quase uma dança entre o clássico e o onírico, remetendo ao encanto das canções de Cole Porter, onde até peixinhos coloridos parecem apaixonar-se ao som de “Let’s Do It (Let’s Fall in Love)”.  

O roteiro, assinado por José Rivera e Tim Sullivan, é deliciosamente previsível, mas não de maneira enfadonha. Cada peça se encaixa como deve, reafirmando que a vida — e, talvez, o cinema — deveria ser assim: harmônica e reconfortante. O desenrolar da trama é tão fluido quanto uma melodia já conhecida, mas que ainda consegue arrancar sorrisos sinceros.  

No centro dessa história está Sophie, interpretada por Amanda Seyfried, que personifica o espírito romântico do filme. Seu percurso como aspirante a escritora a conduz pelas ruas de Verona, a cidade que Shakespeare imortalizou como palco do amor trágico de Romeu e Julieta. Sophie se vê diante de uma carta esquecida por décadas, escrita por Claire Wyman, uma jovem que, há 50 anos, buscava seu próprio Romeu. A carta, encontrada em uma fenda da famosa “Casa de Julieta”, evoca uma jornada de reconciliação com o passado e com as possibilidades perdidas.  

A conexão com a história de Claire ganha mais força graças à escolha de Vanessa Redgrave para viver a personagem. Redgrave, com sua presença magnética, carrega consigo o peso de um amor que transcende o tempo, ecoando sua própria história de vida. Seu romance na vida real com Franco Nero, iniciado no set de “Camelot” em 1967, confere ao filme uma camada extra de autenticidade. Nero, aqui no papel de Lorenzo Bartolini, é o contraponto perfeito para Claire, criando um fechamento poético para sua trajetória conjunta, tanto na ficção quanto fora dela.  

Enquanto isso, Sophie descobre que sua relação com Victor, vivido por Gael García Bernal, carece da profundidade que ela almeja. Victor, embora apaixonado por sua carreira como chef, não consegue oferecer o mesmo nível de conexão emocional que Sophie encontra em Charlie, interpretado por Christopher Egan. Charlie é o sobrinho de Claire, mas também uma figura que ajuda Sophie a redefinir suas próprias expectativas sobre o amor e a vida.  

A ambientação em Verona não é apenas um cenário; é um personagem por si só. A cidade, com sua arquitetura histórica e atmosfera de conto de fadas, reforça o tom poético da narrativa. A escolha de situar a maior parte do filme nesse local icônico não só homenageia a obra de Shakespeare, mas também enriquece o enredo com um simbolismo atemporal.  

No entanto, “Cartas para Julieta” exige que o espectador entre em sintonia com seu espírito. Não se trata de uma narrativa cerebral ou complexa; é uma celebração do amor em suas formas mais idealizadas e, por vezes, ingênuas. Para apreciá-lo em sua totalidade, é preciso deixar-se levar pelo arrebatamento ou pelo lirismo que ele propõe.  

Ao final, o filme nos lembra que o amor, mesmo quando parece tardio ou impossível, encontra seu caminho nos corações que ainda se dispõem a sonhar. É um lembrete de que, às vezes, é necessário resgatar o romantismo adormecido para redescobrir a beleza do mundo.  

Filme: Cartas para Julieta
Diretor: Gary Winnick
Ano: 2010
Gênero: Comédia/Drama/Romance
Avaliaçao: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★