Refilmar uma história contada três vezes ao longo do século 20 poderia parecer desnecessário, mas Bradley Cooper provou o contrário ao transformar “Nasce uma Estrela” (2018) em uma obra que mescla tradição e inovação. Com uma abordagem que dialoga com o presente sem abandonar o espírito das versões anteriores, Cooper atualiza a trama para cativar tanto o público quanto a crítica, equilibrando tecnologia e sensibilidade narrativa.
Desde a primeira versão de William A. Wellman, de 1937, passando pelos trabalhos de George Cukor (1954) e Frank Pierson (1976), a essência do enredo permaneceu: um artista experiente ajuda uma jovem promissora a encontrar seu lugar sob os holofotes, enquanto enfrentam os desafios de uma relação marcada por amor, fragilidade e conflito. Na adaptação de Cooper, essa dinâmica ganha profundidade ao explorar de maneira mais visceral as tensões entre o ascender de Ally, vivida por Lady Gaga, e o declínio pessoal de Jackson Maine, papel de Cooper.
O roteiro, assinado por Cooper, Eric Roth e Will Fetters, transcende os limites de um simples drama romântico. Ele combina momentos de contemplação e intensidade emocional, mergulhando nos altos e baixos da vida artística e nas complexidades das relações humanas. A introdução de Jackson, em um bar decadente após uma apresentação, estabelece o tom melancólico. Jack, um cantor country alternativo à beira do ostracismo, encontra Ally, garçonete e aspirante a cantora, em uma performance marcante de “La Vie en Rose”, de Édith Piaf. Esse encontro transforma ambos, criando um vínculo que oscila entre admiração e dor, paixão e autodestruição.
O trabalho de Matthew Libatique na direção de fotografia merece destaque. Seus contrastes visuais, entre o calor dos momentos de conexão e os tons frios das crises, enriquecem a história. Esses detalhes visuais, aliados à trilha sonora envolvente, fazem de “Nasce uma Estrela” uma experiência cinematográfica completa, conectando o espectador tanto pela audição quanto pelo olhar.
Cooper demonstra mais uma vez seu talento multifacetado, repetindo o feito de equilibrar direção e protagonismo, como fez posteriormente em “Maestro” (2023). Ainda que algumas escolhas em “Nasce uma Estrela” flertem com o melodrama, a autenticidade da execução garante sua relevância, transformando-o em um conto de fadas pós-moderno que transcende gêneros e gerações.
Disponível no Prime Video, “Nasce uma Estrela” é mais do que um exercício de nostalgia. É um exemplo de como recontar uma história universal pode revelar novas verdades sobre paixão, fragilidade e resiliência, enquanto ecoa valores que permanecem essenciais, independentemente da época.
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