Renato de Maria apresenta “Desaparecidos na Noite”, uma adaptação do suspense espanhol “Sétimo” (2013), de Patxi Amezcua. Estrelado por Riccardo Scamarcio no papel de Pietro, o longa mistura elementos de drama familiar com tensão psicológica, explorando os limites da moralidade e da realidade. Pietro é um homem marcado por escolhas questionáveis no passado: ex-funcionário de um traficante e viciado em jogos, ele luta para superar suas dívidas e evitar perder sua preciosa casa de campo na região de Puglia, na Itália, que planeja transformar em um hotel.
Recém-divorciado de Elena (Annabelle Wallis), uma mulher em recuperação de um vício em analgésicos, Pietro enfrenta uma batalha pela guarda dos filhos, Giovanni e Bianca. Apesar das divergências, ambos procuram preservar a estabilidade emocional das crianças, mantendo um relacionamento civilizado. Porém, o filme logo demonstra que acordos amigáveis nem sempre bastam quando eventos imprevisíveis colocam à prova as melhores intenções.
No coração da trama está um cenário familiar que muitos podem reconhecer: o impacto emocional de um divórcio com filhos. Dividir a guarda traz desafios profundos, como a administração do tempo, a confiança e o compromisso mútuo, tudo isso sem comprometer a rotina das crianças. Muitos casais, movidos pelo medo de fragmentar a família, permanecem em relacionamentos insatisfatórios, mas Pietro e Elena ousam trilhar outro caminho — até que a tranquilidade aparente é abalada por um acontecimento aterrador.
Em um fim de semana aparentemente comum, enquanto as crianças estão sob os cuidados de Pietro, elas desaparecem misteriosamente no meio da madrugada. Desesperado, Pietro recorre a Elena, que rapidamente se junta a ele para enfrentar o inesperado. Não demora para que o casal receba uma ligação ameaçadora: um sequestrador exige 150 euros pelo resgate dos pequenos. Sem os recursos necessários, Elena sugere que Pietro busque ajuda de Nico (Massimiliano Gallo), seu antigo chefe no submundo do crime.
Nico, por sua vez, propõe um acordo perigoso: financiar o resgate em troca de um serviço arriscado. Pietro deve transportar drogas de um barco na Grécia, o que o arrasta para uma espiral de tensão, perigo e decisões moralmente duvidosas. Essa jornada sombria, pontuada por perseguições e dilemas, culmina em uma reviravolta inesperada.
Na manhã seguinte, Pietro retorna com o dinheiro, apenas para encontrar Elena e as crianças tranquilamente tomando café da manhã, alheios a qualquer desaparecimento. Essa cena desconcertante deixa o protagonista — e o espectador — questionando a própria sanidade: os eventos realmente aconteceram ou foram fruto de sua mente?
Embora o enredo seja envolvente, com uma premissa que instiga e performances sólidas, especialmente de Scamarcio, o filme tropeça no ritmo. A direção de Renato de Maria entrega momentos de tensão bem construídos, mas o desenvolvimento apressado e um desfecho abrupto diluem o impacto do suspense. A narrativa carece de tempo para aprofundar as nuances emocionais e o mistério central, resultando em uma experiência menos memorável do que o potencial prometido.
Ainda assim, “Desaparecidos na Noite” oferece uma reflexão interessante sobre os limites entre realidade e percepção, e sobre como o peso do passado pode influenciar as escolhas do presente. Mesmo com suas falhas, o filme é uma intrigante exploração dos laços familiares, do desespero e das consequências de nossas ações, provando que, às vezes, o maior enigma não está no que nos acontece, mas no que escolhemos acreditar.
★★★★★★★★★★