À medida que dezembro se aproxima, o calendário cinematográfico se enche de produções que tentam capturar o espírito natalino. A “magia” dessa época não se limita à decoração ou ao consumo desenfreado; inclui também um frenesi existencial, no qual muitos tentam realizar sonhos ou projetos adiados, embalados pela promessa de renovação do Ano Novo. “Última Chamada para Istambul”, do diretor turco Gönenç Uyanık, insere-se nesse panorama de forma irônica, desafiando a superficialidade das festividades e expondo as contradições da busca por felicidade em datas comemorativas.
Ao contrário do calor abrasador do hemisfério sul, o filme retrata um inverno cinematográfico tipicamente norte-americano, com Nova York servindo de pano de fundo. No entanto, o cenário não escapa da crítica afiada: um Dia de Ação de Graças que, mais que um convite à gratidão, transforma-se em vitrine para excessos e hipocrisias. SUVs, mansões hipotecadas e famílias repletas de rancores congelados como a neve: tudo decorado com um verniz de boas intenções e iguarias acessíveis apenas a quem pode pagar. Para Uyanık, essas celebrações assemelham-se a carnês emocionais que precisam ser quitados antes do próximo ciclo de autoengano.
Nesse contexto, a trama ganha corpo através de um encontro casual. O roteiro de Nuran Evren Sit transporta o espectador a uma Nova York estilizada, com planos abertos que capturam a imponência da cidade em suas diversas nuances — ensolarada, melancólica, prestes a chover. O diretor utiliza essa atmosfera cosmopolita para introduzir Serin (Beren Saat) e Mehmet (Kivanç Tatlitug), dois jovens belos, bem-sucedidos e, como se espera, comprometidos. Após uma troca acidental de bagagens no Aeroporto JFK, seus caminhos se entrelaçam em um enredo que combina charme e tensão, ainda que previsível em muitos momentos.
Serin não demonstra sinais de problemas no casamento, enquanto Mehmet, com seu magnetismo cafajeste, reforça a desconfiança natural sobre sua sinceridade. Apesar disso, a química entre os dois é inegável, e o diretor utiliza as brechas do texto para explorar situações que fogem, ainda que brevemente, do óbvio. O resultado é uma relação construída em meio a pretextos e coincidências que os levam a questionar suas escolhas, ainda que o filme falhe em justificar com clareza por que ambos estão em Nova York desacompanhados de seus respectivos cônjuges.
Essa lacuna narrativa enfraquece a obra, sugerindo que Uyanık almejava replicar o sucesso de produções como “Amor sem Escalas” (2009), de Jason Reitman, mas sem a coragem de expor a hipocrisia e o cinismo de personagens que evitam responsabilidades adultas. No entanto, a tentativa de emular o espírito agridoce de comédias românticas sofisticadas encontra limites na superficialidade do desenvolvimento dramático.
Apesar dessas fragilidades, “Última Chamada para Istambul” destaca-se como uma crítica bem-embalada à artificialidade das datas festivas. Com imagens cativantes e atuações carismáticas, o filme convida o público a refletir sobre o custo emocional da felicidade “embalada para presente”. Talvez, ao final, a mensagem seja clara: no Natal, como na vida, nem tudo se resolve com boas intenções e luzes piscando.À medida que dezembro se aproxima, o calendário cinematográfico se enche de produções que tentam capturar o espírito natalino. A “magia” dessa época não se limita à decoração ou ao consumo desenfreado; inclui também um frenesi existencial, no qual muitos tentam realizar sonhos ou projetos adiados, embalados pela promessa de renovação do Ano Novo. “Última Chamada para Istambul”, do diretor turco Gönenç Uyanık, insere-se nesse panorama de forma irônica, desafiando a superficialidade das festividades e expondo as contradições da busca por felicidade em datas comemorativas.
Ao contrário do calor abrasador do hemisfério sul, o filme retrata um inverno cinematográfico tipicamente norte-americano, com Nova York servindo de pano de fundo. No entanto, o cenário não escapa da crítica afiada: um Dia de Ação de Graças que, mais que um convite à gratidão, transforma-se em vitrine para excessos e hipocrisias. SUVs, mansões hipotecadas e famílias repletas de rancores congelados como a neve: tudo decorado com um verniz de boas intenções e iguarias acessíveis apenas a quem pode pagar. Para Uyanık, essas celebrações assemelham-se a carnês emocionais que precisam ser quitados antes do próximo ciclo de autoengano.
Nesse contexto, a trama ganha corpo através de um encontro casual. O roteiro de Nuran Evren Sit transporta o espectador a uma Nova York estilizada, com planos abertos que capturam a imponência da cidade em suas diversas nuances — ensolarada, melancólica, prestes a chover. O diretor utiliza essa atmosfera cosmopolita para introduzir Serin (Beren Saat) e Mehmet (Kivanç Tatlitug), dois jovens belos, bem-sucedidos e, como se espera, comprometidos. Após uma troca acidental de bagagens no Aeroporto JFK, seus caminhos se entrelaçam em um enredo que combina charme e tensão, ainda que previsível em muitos momentos.
Serin não demonstra sinais de problemas no casamento, enquanto Mehmet, com seu magnetismo cafajeste, reforça a desconfiança natural sobre sua sinceridade. Apesar disso, a química entre os dois é inegável, e o diretor utiliza as brechas do texto para explorar situações que fogem, ainda que brevemente, do óbvio. O resultado é uma relação construída em meio a pretextos e coincidências que os levam a questionar suas escolhas, ainda que o filme falhe em justificar com clareza por que ambos estão em Nova York desacompanhados de seus respectivos cônjuges.
Essa lacuna narrativa enfraquece a obra, sugerindo que Uyanık almejava replicar o sucesso de produções como “Amor sem Escalas” (2009), de Jason Reitman, mas sem a coragem de expor a hipocrisia e o cinismo de personagens que evitam responsabilidades adultas. No entanto, a tentativa de emular o espírito agridoce de comédias românticas sofisticadas encontra limites na superficialidade do desenvolvimento dramático.
Apesar dessas fragilidades, “Última Chamada para Istambul” destaca-se como uma crítica bem-embalada à artificialidade das datas festivas. Com imagens cativantes e atuações carismáticas, o filme convida o público a refletir sobre o custo emocional da felicidade “embalada para presente”. Talvez, ao final, a mensagem seja clara: no Natal, como na vida, nem tudo se resolve com boas intenções e luzes piscando.
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