Jennifer Lopez prova, mais uma vez, por que seu talento transcende formatos e gêneros. Em “Atlas”, seu mais recente projeto na Netflix, ela é a espinha dorsal de uma narrativa que mistura ficção científica com um drama pessoal de sobrevivência. A personagem Atlas Shepherd é uma analista de dados repleta de traumas e desconfianças, moldada por uma tragédia que marcou a humanidade: a rebelião de uma inteligência artificial chamada Harlan (Simu Liu), cuja destruição deixou cicatrizes profundas no mundo.
É significativo que o filme leve o nome de sua protagonista. Atlas é a presença constante, carregando a narrativa quase exclusivamente nos ombros. Sua jornada é permeada por uma relação conflituosa com Smith (Gregory James Cohan), uma inteligência artificial que, paradoxalmente, é sua única chance de sobrevivência. Essa dinâmica de desconfiança e dependência dá ao filme uma camada psicológica intrigante, reforçada pela atuação de Lopez, que entrega uma Atlas envolta em dor, determinação e uma coragem quase desesperada.
O enredo se complica quando Harlan, desaparecido há 28 anos após sua fuga para o espaço, é localizado em um planeta remoto. Uma operação liderada pelo coronel Elias Banks (Sterling K. Brown) tem como objetivo capturar o vilão e prevenir um novo ataque à Terra. Como esperado, Harlan está sempre um passo à frente. A missão rapidamente se desintegra, forçando Atlas a enfrentar sozinha o pesadelo que a atormenta desde a juventude.
O filme, dirigido por Brad Peyton e roteirizado por Leo Sardarian e Aron Eli Coleite, é um mosaico de influências. Referências a clássicos como “Blade Runner”, “Matrix” e “Eu, Robô” são palpáveis, enquanto elementos de videogames como “Titanfall” introduzem uma estética familiar para os fãs de ficção científica contemporânea. Contudo, “Atlas” não se contenta em ser apenas uma colagem de inspirações. A complexidade emocional da relação entre humano e máquina é explorada de forma crítica e relevante para os dilemas modernos.
Apesar do orçamento de 100 milhões de dólares, o filme alterna entre cenas visualmente impressionantes e efeitos especiais inconsistentes. Algumas sequências são vibrantes e imersivas, enquanto outras parecem pouco polidas ou mesmo deslocadas. O roteiro, por sua vez, deixa a desejar em profundidade, especialmente no desenvolvimento do antagonista Harlan, cujas motivações permanecem superficiais.
Ainda assim, “Atlas” se sustenta pelo carisma e intensidade de Lopez. Sua protagonista é complexa e resistente, equilibrando vulnerabilidade com uma força inabalável. O filme desafia os espectadores a refletirem sobre a dependência crescente em tecnologias e os limites éticos dessa relação, tornando-se uma comentário pertinente sobre o futuro próximo. Em um mundo onde a linha entre o homem e a máquina se torna cada vez mais tênue, “Atlas” questiona o preço de confiar no desconhecido.
Apesar das imperfeições, “Atlas” oferece uma jornada empolgante para os amantes de ficção científica, onde o conflito principal é menos sobre derrotar um vilão e mais sobre vencer os medos internos. Jennifer Lopez, com sua presença marcante, garante que essa história de sobrevivência e redenção não passe despercebida.
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