Indicado a 297 prêmios, incluindo 7 Oscars, drama autobiográfico de Steven Spielberg é uma declaração de amor ao cinema, no Prime Video Divulgação / UPI

Indicado a 297 prêmios, incluindo 7 Oscars, drama autobiográfico de Steven Spielberg é uma declaração de amor ao cinema, no Prime Video

Em “Os Fabelmans”, Steven Spielberg revisita a gênese de seu fascínio pelo cinema, desnudando aspectos de sua própria história em uma obra que mistura confessionalismo e metalinguagem. Entrelaçando memória e ficção, o filme emerge como um dos projetos mais pessoais de sua carreira, revelando não apenas sua trajetória como cineasta, mas também os dilemas e sacrifícios que moldaram sua sensibilidade artística. É uma ode ao ato de contar histórias, conduzida com a precisão de um diretor que domina como poucos a arte de transformar vivências íntimas em narrativas universais.  

A trama acompanha os Fabelmans, uma família judaica composta por Burt, um cientista metódico; Mitzi, uma pianista que abdicou de sua carreira pela família; e Sammy, o filho cujo olhar atento e imaginativo captura a essência do lar e dos mundos que ele inventa através de sua câmera. Mitzi, interpretada por Michelle Williams em um papel vibrante, vive o paradoxo entre o talento não realizado e a devoção à família. Já Burt, encarnado com sutileza por Paul Dano, simboliza a lógica e a estabilidade, contrastando com o espírito artístico de Mitzi.  

O ponto de inflexão ocorre quando Sammy, ainda criança, assiste ao épico “O Maior Espetáculo da Terra” (1952), de Cecil B. DeMille. Fascinado, ele recria em casa a cena de um acidente de trem usando miniaturas, uma experiência que transcende a brincadeira e cristaliza o nascimento de um cineasta. Enquanto Burt vê na destruição das peças uma irresponsabilidade, Mitzi enxerga algo extraordinário: o talento de Sammy como contador de histórias. Esse embate entre razão e arte percorre todo o filme, compondo um retrato delicado da dinâmica familiar.  

Spielberg, em parceria com o roteirista Tony Kushner, imprime uma narrativa que alterna entre o humor e a emoção. A jornada de Sammy pela adolescência, interpretado por Gabriel LaBelle com intensidade crescente, culmina em seus primeiros experimentos cinematográficos, como um curta sobre a Segunda Guerra Mundial, onde ele já demonstra um controle surpreendente sobre a linguagem visual. Cada etapa do amadurecimento de Sammy reflete o dualismo de Spielberg: um cineasta que combina o fascínio pelo espetáculo com uma habilidade ímpar de explorar a condição humana.  

Mais do que um relato autobiográfico, “Os Fabelmans” é uma celebração do cinema como meio de autodescoberta e expressão. Spielberg revisita temas que pontuaram sua obra, desde os traumas e as relações familiares de “E.T. — O Extraterrestre” (1982) até os dilemas morais de “A Lista de Schindler” (1993). A diferença é que, aqui, ele abandona o filtro da fantasia e encara diretamente suas memórias. O resultado é um filme que, sem apelar ao sentimentalismo, evoca a universalidade das escolhas e perdas que definem a vida.  

O maior triunfo de Spielberg, no entanto, é sua habilidade de capturar o espírito do tempo sem se render a ele, equilibrando autenticidade artística e apelo popular. “Os Fabelmans” sintetiza essa dualidade ao transformar um relato pessoal em uma obra cinematográfica poderosa e cativante. É um testemunho de como as histórias que contamos — e as que vivemos — moldam quem somos, enquanto reafirma o papel de Spielberg como um mestre em traduzir o extraordinário do cotidiano em puro encantamento visual.

Filme: The Fabelman’s
Diretor: Steven Spielberg
Ano: 2023
Gênero: Comédia/Drama
Avaliação: 10/10 1 1
★★★★★★★★★★