É um enigma que se revela para uns poucos afortunados o modelo que faz com que sucedam-se os filmes sobre um mesmo assunto — malgrado com um sem fim de variações —, os mesmos personagens, fidelidade à história original e o fator que acaba por subjugar todos os outros, o interesse do público, igual ou ascendente. Michael Bay esgrimiu esses quatro tópicos com galhardia e entregou a Adil El Arbi e Bilall Fallah uma história redonda. El Arbi e Fallah, marroquino-belgas de trinta e poucos anos, certamente têm uma ideia sólida a respeito da polícia, e em “Bad Boys para Sempre” (2020) combateram em frentes diversas, tentando de alguma forma denunciar o abuso de certos procedimentos policiais dois meses antes que a pandemia de covid-19 tomasse corações e mentes e lançasse a humanidade num precipício ainda mais fundo de paranoia e incerteza. Continua a existir muita política e muita sociologia barata em “Bad Boys: Até o Fim”, o quarto do que deveria ser uma trilogia a se analisar o caráter decisivo do título. Como até as pedras da rua já sabiam, os acertos entre os diretores, as produtoras e, naturalmente, a dupla de protagonistas eram favas contadas e outro filhote da série criada num longínquo 1995 ganhou vida. A pergunta de um milhão de dólares é: para quê?
Em que pese viver numa sociedade extremamente violenta, num mundo cada vez mais individualista em que valores antes fundamentais a fim de se primar pela boa convivência restam completamente distorcidos e superados, temos toda a sorte de problemas. Levantar da cama e ganhar o mundo às vezes já um desafio quase inexpugnável. No filme anterior Mike Lowery escapara da morte e agora Marcus Miles sofre um ataque cardíaco durante o casamento do parceiro. Pelo que se vê, os detetives mais descolados de Miami mudaram um pouco, mas já haviam mudado em 2020, quando Mike, o personagem de Will Smith, começava a se cansar de sua reputação de festeiro inveterado, solteirão convicto e um casanova que atira primeiro e pergunta depois, ao passo que Marcus, a consciência crítica desse estranho casal, acabara de tornar-se avô. Aqui, El Arbi e Fallah acrescenta a morte do impagável capitão Conrad Howard de Joe Pantoliano, mas sempre contando com o carisma de Smith e Martin Lawrence, revezando-se em piadas sobre trânsito e confeitos coloridos. Não era necessário outro filme para isso.
★★★★★★★★★★