Você vai se apaixonar: o belíssimo e poético romance francês no Prime Video que recebeu 8 minutos de aplausos em Cannes Divulgação / Gaumont

Você vai se apaixonar: o belíssimo e poético romance francês no Prime Video que recebeu 8 minutos de aplausos em Cannes

Amor e comida possuem uma relação que transcende o mero sustento, entrelaçando-se em um jogo intricado de emoções e prazeres. “O Sabor da Vida”, dirigido pelo vietnamita Tran Anh Hung, captura essa conexão com uma poesia visual que emerge aos poucos, como uma essência que se liberta de um prato bem elaborado. Em seus primeiros minutos, o filme desenha com delicadeza a dinâmica entre um gastrónomo francês e sua cozinheira, ambos ligados por uma tensão que vai além da relação profissional. Ele, um epicurista que antecipa o arquétipo dos chefs celebrados da modernidade; ela, uma artista que transforma cada gesto culinário em poesia, evocando o lirismo de Victor Hugo ou a ironia refinada de Molière.

Baseado no romance “A Vida e a Paixão de Dodin Bouffant, Gourmet”, escrito pelo suiço Marcel Rouff, o roteiro preserva a liberdade criativa da obra original enquanto celebra o hedonismo e a intensidade das relações humanas. Tran constrói sua narrativa com uma precisão que evoca o preparo de um banquete: cada cena, cada diálogo, é um ingrediente cuidadosamente dosado para compor uma experiência sensorial que transcende a tela. Benoît Magimel e Juliette Binoche entregam atuações magnéticas, cuja química dá vida às complexidades de seus personagens. Em paralelo, as presenças de Galatéa Bellugi e Bonnie Chagneau-Ravoire, como Violette e Pauline, adicionam camadas sutis à trama, refletindo o impacto da relação central sobre quem orbita ao redor dela.

A relação entre Bouffant e Eugénie é construída em torno da cozinha, um espaço regido por hierarquias rigorosas. Mesmo durante um banquete que preparam para amigos do anfitrião, a tensão entre o desejo e a disciplina nunca cede. Enquanto os pratos chegam à mesa, ambos encontram maneiras distintas de relaxar, mas sempre respeitando os limites impostos por suas funções. Curiosamente, mesmo afastada dos convidados, Eugénie compartilha do banquete à sua maneira, degustando as criações em uma relação íntima com sua arte. Essa dualidade é acentuada pela presença de Pauline, cuja admiração por Eugénie revela-se em pequenos gestos, como ao decifrar o segredo de um molho ou conter lágrimas diante de uma sobremesa impecável.

O passado do casal principal permanece envolto em mistério, mas é na recusa de Eugénie em aceitar o casamento que o filme encontra um de seus momentos mais reveladores. Sua negação à proposta constante de Bouffant é uma afirmação de independência, um gesto que transcende as convenções românticas e reafirma seu direito à autonomia. Quando, no terceiro ato, ela finalmente cede às investidas após um jantar romântico preparado por ele, o destino parece puni-la pela traição à sua própria natureza. Sua saúde declina rapidamente, e Binoche transmite com uma intensidade arrebatadora a agonia de sua personagem. Nesse ponto, a figura de Pauline assume maior destaque, sugerindo uma continuidade simbólica e quase levando a narrativa a um desfecho reminiscente de “A Criada”, de Park Chan-wook. Contudo, Tran evita as soluções fáceis, optando por um final que abraça a efemeridade dos amores e a beleza de sua impermanência.

“O Sabor da Vida” é mais do que uma celebração da gastronomia; é um estudo sobre as relações humanas e a fragilidade das conexões que construímos. Com uma direção delicada e atuações memoráveis, o filme de Tran Anh Hung ressoa como uma obra-prima lírica, um tributo aos amores que, como os pratos mais refinados, permanecem vivos em nossa memória pelo tempo que precisam.

Amor e comida possuem uma relação que transcende o mero sustento, entrelaçando-se em um jogo intricado de emoções e prazeres. “O Sabor da Vida”, dirigido pelo vietnamita Tran Anh Hung, captura essa conexão com uma poesia visual que emerge aos poucos, como uma essência que se liberta de um prato bem elaborado. Em seus primeiros minutos, o filme desenha com delicadeza a dinâmica entre um gastrónomo francês e sua cozinheira, ambos ligados por uma tensão que vai além da relação profissional. Ele, um epicurista que antecipa o arquétipo dos chefs celebrados da modernidade; ela, uma artista que transforma cada gesto culinário em poesia, evocando o lirismo de Victor Hugo ou a ironia refinada de Molière.

Baseado no romance “A Vida e a Paixão de Dodin Bouffant, Gourmet”, escrito pelo suiço Marcel Rouff, o roteiro preserva a liberdade criativa da obra original enquanto celebra o hedonismo e a intensidade das relações humanas. Tran constrói sua narrativa com uma precisão que evoca o preparo de um banquete: cada cena, cada diálogo, é um ingrediente cuidadosamente dosado para compor uma experiência sensorial que transcende a tela. Benoît Magimel e Juliette Binoche entregam atuações magnéticas, cuja química dá vida às complexidades de seus personagens. Em paralelo, as presenças de Galatéa Bellugi e Bonnie Chagneau-Ravoire, como Violette e Pauline, adicionam camadas sutis à trama, refletindo o impacto da relação central sobre quem orbita ao redor dela.

A relação entre Bouffant e Eugénie é construída em torno da cozinha, um espaço regido por hierarquias rigorosas. Mesmo durante um banquete que preparam para amigos do anfitrião, a tensão entre o desejo e a disciplina nunca cede. Enquanto os pratos chegam à mesa, ambos encontram maneiras distintas de relaxar, mas sempre respeitando os limites impostos por suas funções. Curiosamente, mesmo afastada dos convidados, Eugénie compartilha do banquete à sua maneira, degustando as criações em uma relação íntima com sua arte. Essa dualidade é acentuada pela presença de Pauline, cuja admiração por Eugénie revela-se em pequenos gestos, como ao decifrar o segredo de um molho ou conter lágrimas diante de uma sobremesa impecável.

O passado do casal principal permanece envolto em mistério, mas é na recusa de Eugénie em aceitar o casamento que o filme encontra um de seus momentos mais reveladores. Sua negação à proposta constante de Bouffant é uma afirmação de independência, um gesto que transcende as convenções românticas e reafirma seu direito à autonomia. Quando, no terceiro ato, ela finalmente cede às investidas após um jantar romântico preparado por ele, o destino parece puni-la pela traição à sua própria natureza. Sua saúde declina rapidamente, e Binoche transmite com uma intensidade arrebatadora a agonia de sua personagem. Nesse ponto, a figura de Pauline assume maior destaque, sugerindo uma continuidade simbólica e quase levando a narrativa a um desfecho reminiscente de “A Criada”, de Park Chan-wook. Contudo, Tran evita as soluções fáceis, optando por um final que abraça a efemeridade dos amores e a beleza de sua impermanência.

“O Sabor da Vida” é mais do que uma celebração da gastronomia; é um estudo sobre as relações humanas e a fragilidade das conexões que construímos. Com uma direção delicada e atuações memoráveis, o filme de Tran Anh Hung ressoa como uma obra-prima lírica, um tributo aos amores que, como os pratos mais refinados, permanecem vivos em nossa memória pelo tempo que precisam.

Filme: O Sabor da Vida
Diretor: Tran Anh Hung
Ano: 2023
Gênero: Drama/Romance
Avaliaçao: 9/10 1 1
★★★★★★★★★