“John Wick” (“De Volta ao Jogo”) é um thriller que redefiniu o gênero de ação, inspirando-se nos clássicos de máfia e vingança, mas entregando algo singularmente moderno. Com roteiro de Derek Kolstad e direção de Chad Stahelski — ambos veteranos dublês —, o filme oferece uma coreografia meticulosamente planejada, cenas de luta de tirar o fôlego e uma atmosfera sombria, intensificada pela cinematografia de Jonathan Sela. Contudo, o coração pulsante da história é Keanu Reeves, cuja atuação carismática transforma John Wick em um dos anti-heróis mais icônicos do cinema contemporâneo.
John Wick, um assassino profissional aposentado, tenta reconstruir sua vida após perder sua esposa para uma doença terminal. O último presente dela, um filhote de cachorro, torna-se o único laço emocional de Wick com o mundo. Esse frágil vínculo é brutalmente rompido quando o jovem mafioso Iosef Tarasov, sem saber quem é sua vítima, invade a casa de Wick, rouba seu amado Ford Mustang de 1969 e mata o cachorro. Esse ato insensato libera uma força imparável de vingança. A transformação de Wick de um homem recluso para um vingador implacável ocorre sem hesitação, e o submundo do crime se prepara para as consequências.
Viggo Tarasov, chefe da máfia e pai de Iosef, reconhece imediatamente a magnitude do erro do filho. Tenta oferecer a Wick um acordo para evitar uma guerra, mas é tarde demais. O que se segue é uma sinfonia de ação brutal e precisa, onde cada tiro, cada golpe e cada perseguição de carro é coreografada com uma exatidão impressionante. Keanu Reeves, realizando 90% das cenas de ação, empresta ao personagem uma fisicalidade autêntica, fruto de meses de treinamento em jiu-jitsu brasileiro, manuseio de armas e combate em espaços fechados.
A decisão de Stahelski de evitar o uso excessivo de CGI dá ao filme uma sensação visceral. As cenas de luta são frequentemente filmadas em planos-sequência, sem cortes, permitindo que o espectador acompanhe cada movimento com clareza e intensidade. A fotografia de Jonathan Sela é marcada por um uso ousado de tons de néon e sombras dramáticas, criando um contraste visual entre o brilho sintético e os ambientes sombrios da narrativa. Essa estética noir contemporânea confere ao filme uma elegância estilizada que se alinha à sofisticação letal de seu protagonista.
Por trás das cenas de violência estilizada, “John Wick” não é apenas uma história de vingança; é uma exploração do código de honra de um submundo violento, onde cada ação tem uma consequência inevitável. Wick personifica a ideia de um homem que perdeu tudo, mas encontrou na vingança um último propósito. É essa mistura de desespero e determinação que torna o filme tão envolvente e seu protagonista tão memorável.
★★★★★★★★★★