“Twister” (1996), de Jan de Bont, o ganhador do BAFTA de Melhores Efeitos Visuais, com Helen Hunt, Bill Paxton (1955-2017) e Philip Seymour Hoffman (1967-2014), concebeu alguns filhotes. O mais parecido com a matriz é, sem dúvida, “Twisters”, que nunca deixa de assumir sua natureza vintage, apesar da óbvia evolução tecnológica que não deixa de tirar muito da graça de histórias assim. O diretor, Lee Isaac Chung, vem se revelando um profissional cujo dinamismo leva-o a se dedicar com o mesmo apuro a trabalhos como “Minari: Em Busca da Felicidade” (2020), atento aos detalhes, buscando incluir o espectador na narrativa e conseguindo muitas vezes arrancar de uma ou outra cena alguma escassa poesia. Por trás de enredos delirantes, inverossímeis, farsescos — e não raro patéticos — como o destrinchado pelo roteiro de Joseph Kosinski e Mark L. Smith, por seu turno baseado nas contribuições de Michael Crichton (1942-2008) para o longa de De Bont, escondem-se verdades imperscrutáveis que muitos ignoram, aquelas com as quais vamos sendo obrigados a nos defrontar em situações mais e mais genéricas.
De uma forma ou de outra, os personagens de “Twisters” temem ser surpreendidos pelos tantos inesperados da vida sem que ainda estejam prontos, o que, como todos sabemos os que já passamos de determinada idade, sói acontecer com uma frequência meio enjoativa. O momento em que somos impelidos a tomar nossas próprias decisões e nos lançar ao mundo, sem qualquer certeza sobre se resistiremos ao arrojo da nossa ousadia, vem num jato; é quando se sente que, se não tomamos posse de nosso destino naquele instante mesmo e decidimos o que quer que seja, depois poderá ser irremediavelmente tarde demais. Antes que o filme aconteça, Chung mostra Kate Carter, a futura diretora de uma empresa de pesquisas meteorológicas, perseguindo tornados, o que instiga-nos a dúvida sobre se sua mãe, que diz estar preparando-lhe um churrasco para a volta, sabe no que a filha tem se metido. Os eventos trágicos que se seguem, quando seus amigos são carregados por um torvelinho deslocando-se a mais de trezentas milhas por hora, fazem com que a trama avance cinco anos, e ela seja de novo procurada por Javi, uma espécie de prático da fracassada missão interpretado por Anthony Ramos. O que poderia vir daí?
O diretor faz todas as limonadas que consegue dos limões que não param de cair em seu colo. Primeiro, a reaproximação entre Kate e Javi, quase fantasiosa, vira o trampolim para o encontro cheio de barreiras entre a mocinha e Tyler Owens, um sujeito meio fanfarrão que se apresenta como um cientista-vaqueiro, e aí as pretensões de Chung tornam-se ainda mais evidentes. A despeito da gravidade da emergência climática, “Twisters” é um filme de amor, e Daisy Edgar-Jones e Glen Powell não nos deixam esquecer disso, embora sejam necessárias quase duas horas para que acenem com a possibilidade de terminarem juntos, graças ao cancelamento de um voo por causa de uma tempestade violenta. Para alguma coisa o fim do mundo teria de servir.
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