Em tempos de avanços descontrolados na inteligência artificial, imaginar uma androide capaz de destruir uma família inteira parece menos ficção e mais um reflexo sombrio da realidade. “Alice: Subservience”, de S.K. Dale, se apoia nessa premissa para construir uma trama que mistura drama, suspense e uma crítica à dependência tecnológica. A obra, que tem roteiro de Will Honley e April Maguire, busca emular o impacto de clássicos do gênero ao apresentar Alice, uma androide perfeita em aparência e função, interpretada por Megan Fox. Ela chega à vida de Nick, um pai de família em colapso emocional, e a aparente solução transforma-se numa fonte de caos e destruição.
Nick é a imagem da desilusão: um homem que parece ter tudo, mas é corroído por uma tristeza silenciosa desde que sua esposa, Maggie (Madeline Zima), foi hospitalizada devido a uma doença grave. A fotografia de Daniel Lindholm, saturada em tons frios de azul e cinza, captura a solidão opressiva do protagonista. Uma ida despretensiosa a uma feira tecnológica com sua filha, Isla (Matilda Firth), leva ao encontro com Alice. Ela é um modelo de IA com rosto humano e comportamento programado para servir — uma solução elegante para problemas domésticos, mas com um custo invisível e assustador.
À medida que Nick se envolve com a androide, a dinâmica familiar se contorce. A aproximação entre Isla e Alice adiciona breves momentos de ternura, mas o filme se abstém de explorar profundamente as implicações dessa relação. A alusão à “Alice” de Lewis Carroll é clara e, ao mesmo tempo, provocativa — uma referência à ingenuidade contrastando com a sedução perigosamente controlada da androide. Essa dicotomia reforça a ideia de que a ilusão da perfeição pode ser uma armadilha mortal.
Embora Megan Fox traga um magnetismo irresistível à personagem, o filme não consegue se desvencilhar de clichês visuais e narrativos. A tentativa de criar um suspense sensual esbarra em uma exposição exagerada da beleza dos protagonistas. A direção parece confiar demais no apelo visual de Fox e Michele Morrone, deixando a reflexão sobre o impacto da IA em segundo plano.
“Alice: Subservience” tenta ecoar a sofisticação de obras como “Ex-Machina: Instinto Artificial”, mas não alcança a mesma profundidade filosófica ou psicológica. Ainda assim, o filme serve como um alerta estético e emocional sobre os perigos de delegarmos às máquinas o que é essencialmente humano. Ao fim, resta uma história sobre a fragilidade das relações e os limites difusos entre a servidão e a subversão.
★★★★★★★★★★