Nas paisagens áridas e impiedosas do narcotráfico, “Sicario: Terra de Ninguém” emerge como uma análise fria e precisa da violência que sustenta o comércio de drogas. Denis Villeneuve, um dos cineastas mais habilidosos de sua geração, não faz concessões: desde a abertura, o filme desnuda a brutalidade que permeia o tráfico. O roteiro de Taylor Sheridan apresenta uma casa que, sob sua estrutura, oculta mais de trinta cadáveres — vítimas cuja ligação com o crime variava de inadimplência a traições fatais. Policiais incorruptíveis, traficantes descuidados e devedores foram todos engolidos por um sistema onde a lealdade é uma moeda rara e preciosa.
Neste universo caótico, a violência não é um subproduto, mas um mecanismo de controle e sobrevivência. Gangues armadas desafiam as forças de segurança com poder de fogo adquirido através de contrabando, enquanto facções rivais disputam, com ferocidade, territórios lucrativos de venda de drogas. Esse mercado clandestino movimenta, anualmente, cerca de 900 bilhões de dólares — equivalente a 1,5% do PIB global, uma cifra que eclipsa um terço da economia brasileira. É uma indústria sombria, cuja sofisticação reflete a banalidade do mal em sua forma mais dissimulada, infiltrando-se em bairros marginalizados e vilarejos isolados, seduzindo os mais vulneráveis com promessas ilusórias de riqueza fácil. Jovens, frequentemente negros e com pouca escolaridade, são alvos preferenciais desse ciclo devastador.
O termo “sicário” remonta aos assassinos zelotes da Judeia antiga, mas, no México contemporâneo, designa os matadores a serviço dos cartéis. Contra eles, a agente do FBI Kate Macy, vivida por Emily Blunt, se lança com determinação inabalável. Sua presença domina a cena inicial, remetendo à intensidade de “A Hora Mais Escura” (2012), de Kathryn Bigelow. A competência de Macy lhe abre portas para uma missão de alto risco: capturar um chefe do narcotráfico perto da fronteira e conduzi-lo para interrogatório em solo americano. Ao lado de Matt e Alejandro — personagens enigmáticos interpretados por Josh Brolin e Benicio Del Toro —, Macy começa a desconfiar que há segredos obscuros guiando a operação, cuja execução se desmorona em falhas precisas e calculadas.
Villeneuve constrói um suspense sofisticado e envolvente, equilibrando cenas de ação com a introspecção de sua protagonista. As dúvidas de Macy oscilam entre a lucidez e o desgaste emocional provocado por um ambiente de constante tensão. As intenções dos personagens só se revelam na grande virada da trama, uma reviravolta meticulosamente orquestrada, evidenciando que, sob a direção de Villeneuve, cada detalhe é essencial e nada é deixado ao acaso.
★★★★★★★★★★