Assassinos em série podem surgir em qualquer lugar, mas o fascínio mórbido pelos Estados Unidos como epicentro desse tipo de violência não é por acaso. A combinação de uma cultura armamentista enraizada, desigualdades sociais gritantes e a perpetuação de ódios como racismo, misoginia e homofobia cria um terreno fértil para tragédias. Adicione a pressão do “American Dream”, a violência doméstica e o abandono social, e o resultado é um cenário onde brutalidade e desespero andam lado a lado. É nesse ambiente que “O Telefone Preto” finca suas raízes, transportando o público para a sombria Denver dos anos 1970, onde os perigos se escondem tanto dentro quanto fora de casa.
No centro da história está Finney Shaw, um garoto de 13 anos que enfrenta uma realidade dura. Órfão de mãe, ele vive com o pai alcoólatra e abusivo e a irmã Gwen, que possui um estranho dom de sensibilidade psíquica. A modesta casa da família reflete a precariedade de suas vidas, marcadas por limitações econômicas e emocionais. Como se isso não bastasse, Finney é constantemente alvo de valentões na escola, sofrendo agressões físicas que minam ainda mais sua autoestima.
Seu único refúgio é a amizade com Robin, um garoto valente que, ao contrário de Finney, enfrenta os agressores com destemor. Robin se torna uma espécie de protetor para o amigo, mas o equilíbrio frágil dessa relação é quebrado por uma ameaça ainda maior: um assassino em série conhecido como “O Sequestrador”. Identificado por deixar balões pretos no local dos raptos, ele aterroriza a comunidade, desaparecendo com meninos da mesma faixa etária de Finney.
Quando Robin se torna a próxima vítima, o pavor se intensifica. Pouco tempo depois, Finney também é capturado e trancado em um porão escuro, onde sua única companhia é um colchão velho e um telefone preto aparentemente desconectado. Mas o telefone esconde um segredo macabro: ele permite que Finney receba ligações dos garotos mortos pelo Sequestrador. Essas vozes do além oferecem orientações para escapar, transformando o aparelho em sua única esperança de sobrevivência.
Enquanto isso, Gwen começa a ter visões perturbadoras que podem ajudar a polícia a localizar seu irmão. A narrativa se desenrola como um quebra-cabeça de tensão crescente, onde o sobrenatural e o real se entrelaçam em uma luta desesperada contra o tempo.
“O Telefone Preto” não é apenas uma história de terror; é um retrato sombrio das marcas deixadas pela violência, seja doméstica, escolar ou estrutural. Nas entrelinhas, se questiona. como essas camadas de crueldade moldam ou destroem vidas jovens. A trama, ao mesmo tempo claustrofóbica e carregada de esperança, apresenta um protagonista que descobre em meio ao medo uma força que nunca imaginou possuir.
A atuação do elenco e a direção habilidosa transformam o filme em uma experiência visceral, onde cada cena carrega o peso das escolhas e das consequências. Entre o horror e a resistência, “O Telefone Preto” nos lembra que, mesmo nas situações mais sombrias, a conexão humana — ainda que vinda do outro lado da vida — pode ser a chave para a salvação.
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