O filme europeu mais visto da história da Netflix: mais de 100 milhões de visualizações e 43 dias no Top 10 mundial Francisco Munoz / Netflix

O filme europeu mais visto da história da Netflix: mais de 100 milhões de visualizações e 43 dias no Top 10 mundial

Em tempos de comodidades pós-modernas, quando raramente nos permitimos desconectar do ritmo frenético da vida, há momentos em que somos convidados a mergulhar em nossas próprias essências. Essa introspecção revela respostas que há muito buscamos, escondidas sob camadas de racionalidade e desejo. O homem, por natureza, parece obcecado por aquilo que está fora de seu alcance. Mesmo ao tocar a realização de seus sonhos, frequentemente encontra maneiras de sabotar a si mesmo, como se temesse a plenitude da felicidade ou não pudesse aceitar suas imperfeições como parte do todo que o torna singular. Essa ambivalência, ao mesmo tempo frustrante e fascinante, faz do ser humano um paradoxal arquiteto de sua própria ruína.

Talvez a felicidade não seja impossível, mas requer um esforço que poucos estão dispostos a empreender. Enquanto isso, a natureza continua clamando por atenção, rugindo contra a indiferença de uma humanidade que destrói sem remorso. Florestas milenares tornam-se cinzas ou pisos para mansões de milionários; espécies desaparecem; o solo racha, incapaz de sustentar vida; e até mesmo a água, fonte de existência, adoece sob o pretexto de um progresso que, na prática, recicla práticas destrutivas. O homem, célebre por suas desculpas, mascara sua negligência com justificativas frágeis, enquanto a Terra grita em alerta.

Roar Uthaug, cineasta norueguês, usa o cinema para amplificar esse grito em “O Troll da Montanha”. Partindo do folclore escandinavo, a obra é mais que uma aventura: é uma metáfora urgente. A criatura monstruosa do título não é um vilão; ela é uma resposta à agressão. O roteiro, assinado por Uthaug e Espen Aukan, combina ação e reflexão, atraindo tanto espectadores em busca de puro entretenimento quanto aqueles que reconhecem mensagens profundas em filmes como “King Kong” e “Godzilla”. Com mão firme, Uthaug guia a narrativa para além da superfície, revelando a tensão entre homem e natureza.

A paleobióloga Nora Tideman, vivida por Ine Marie Wilman, simboliza a busca pela verdade científica e pela reconexão com o que foi perdido. Sua descoberta — um fóssil que há tempos desafia a comunidade científica — desencadeia uma série de eventos, incluindo a implosão de uma área montanhosa, liberando a colossal criatura antropomórfica do título. O troll, revestido de pedras e líquen, emerge como um símbolo de resistência, enquanto Nora tenta decifrar seu enigma.

Para isso, ela busca a ajuda de Tobias, seu pai, interpretado por Gard B. Eidsvold. Tobias, excêntrico e distante dos padrões convencionais de sanidade, traz nuances à história. Seu arco narrativo, aparentemente dissonante, é essencial para o tema central. Em uma das sequências mais marcantes, o troll revela uma sensibilidade inesperada, desafiando preconceitos e convidando o público a reconsiderar o que significa ser humano. 

“O Troll da Montanha” é, em última análise, um lembrete poderoso de que a natureza não é nossa inimiga, mas um reflexo de nossas escolhas. A destruição que infligimos retorna a nós, como ecos de um grito que não podemos ignorar.

Filme: O Troll da Montanha
Diretor: Roar Uthaug
Ano: 2022
Gênero: Ação/Suspense/Terror
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★