A história mais fora da curva que você verá em 2024 está na Netflix: recomendada por Tarantino Divulgação / Netflix

A história mais fora da curva que você verá em 2024 está na Netflix: recomendada por Tarantino

Quem busca narrativas eletrizantes, impregnadas de violência gráfica e duelos morais entre figuras dúbias, encontra em “Através das Sombras” um deleite cinematográfico. Timo Tjahjanto, diretor e roteirista indonésio, reforça sua assinatura estética: histórias desenfreadas de personagens em busca de redenção, forçados por circunstâncias inesperadas a reconsiderar suas escolhas sem jamais diminuir o ritmo frenético. Seus protagonistas dançam perigosamente entre a brutalidade e uma possibilidade remota de heroísmo — um equilíbrio tênue que se sustenta por quase duas horas e meia de ação incessante.

Tjahjanto aposta na dinâmica visceral entre dilemas éticos e confrontos físicos. Os personagens transitam em uma zona nebulosa, não totalmente afundados no abismo da criminalidade, mas longe de encarnar os heróis idealizados. Esse jogo de extremos se desenrola em um universo caótico, onde a moralidade é fluida e a violência é a única certeza. É nesse cenário distópico, já familiar em obras como “Headshot” (2016) e “A Noite nos Persegue” (2018), que a trama de “Através das Sombras” se desenvolve, conduzindo o espectador por uma jornada de brutalidade e redenção.

O filme se inicia no enigmático Mar de Árvores, às margens do Monte Fuji, no Japão. Uma figura mascarada, vestida de negro, invade a fortaleza de um chefe da Yakuza e deixa um rastro de sangue. Sob a máscara, está a Agente Treze, uma jovem de dezessete anos, integrante feroz do grupo clandestino conhecido como Sombras — assassinos de aluguel que operam em toda a Ásia. Aurora Ribero, na pele de Treze, entrega uma performance magnetizante, deslizando com seus sabres como se fossem extensões naturais de seu corpo. Cada golpe é meticulosamente coreografado, elevando a brutalidade a um espetáculo de precisão e arte.

O enredo se desloca para uma floresta do Camboja, onde Treze cruza o caminho de Monji, um garoto de onze anos que carrega um segredo valioso demais para ser ignorado pelos Sombras. Após testemunhar a morte da mãe e escapar por pouco dos sequestradores a serviço da máfia local, Monji se torna um inesperado protegido da jovem assassina. Treze, relutante e endurecida pelo ofício, assume o papel de guardiã do menino, em uma dinâmica que mistura instinto maternal e brutalidade necessária. Ribero, com firmeza e nuances emocionais, redefine a figura do anti-herói, enquanto Ali Fikry, como Monji, acrescenta uma camada de vulnerabilidade à narrativa.

Essa relação inusitada é o coração do filme, trazendo uma humanidade crua e sem excessos sentimentais. Tjahjanto evita armadilhas melodramáticas e entrega uma conclusão que emociona pela sobriedade. O diretor, que antes privilegiava protagonistas masculinos de força bruta e fragilidade latente, parece agora decidido a explorar o potencial das personagens femininas. E Ribero corresponde à altura, dominando a tela com intensidade e precisão.

O novo cinema de ação indonésio, do qual Tjahjanto é um dos expoentes, revela-se aqui em sua forma mais ágil e impactante. “Através das Sombras” não oferece um confronto claro entre bem e mal, mas uma dança sangrenta de sobrevivência e compaixão improvável. É um espetáculo de violência estilizada, sustentado por atuações afiadas e uma narrativa que desafia clichês, mantendo o público preso até o último golpe.

Filme: Através das Sombras
Diretor: Timo Tjahjanto
Ano: 2024
Gênero: Ação/Crime/Suspense
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★