Corre para a Netflix: Tim Blake Nelson no faroeste que você vai querer assistir duas vezes Divulgação / Koch Media

Corre para a Netflix: Tim Blake Nelson no faroeste que você vai querer assistir duas vezes

Concebido de forma incomum, “O Retorno da Lenda” não seguiu o caminho convencional de produção cinematográfica. Antes de um roteiro ser escrito, a peça central da narrativa já estava definida: uma casa centenária, escondida entre montanhas, a 40 minutos de Nashville. Foi ali, em uma propriedade rural quase esquecida, que o diretor e roteirista Potsy Ponciroli encontrou o cenário perfeito para dar vida ao seu faroeste. A descoberta aconteceu por acaso, durante a busca de uma locação para outro projeto de sua produtora, Hideout Pictures. O local, porém, não apenas serviu de pano de fundo, mas também inspirou a história que viria a seguir.

A produção, minimalista por essência, utilizou o exterior da casa como base para construir uma narrativa imersiva. A parceria com a distribuidora Shout! tornou possível gravar o filme inteiramente na casa e em seus mais de dois mil hectares de terreno ao redor. Com um elenco enxuto, composto por menos de dez homens e nenhuma mulher, e sem detalhes revelados sobre o orçamento, a produção arrecadou modestos 42 mil dólares. No entanto, o que falta em recursos é compensado em criatividade e impacto, refletindo um resultado notável para uma obra independente.

O diretor constrói um thriller que, apesar de se desenvolver lentamente nos primeiros quarenta minutos, prende o espectador com uma atmosfera densa e repleta de tensão. A segunda metade do filme transforma-se em um espetáculo de tiroteios e violência visceral. Os diálogos, ainda que escassos, são carregados de significado. Ponciroli evita palavras desnecessárias, garantindo que cada frase dita tenha peso emocional e narrativo.

A trama, marcada por um suspense meticuloso, desafia os estereótipos do gênero faroeste. Embora mantenha a figura central do homem solitário e reservado, seu protagonista, Henry, interpretado magistralmente por Tim Blake Nelson, foge da exaltação tradicional de masculinidade. O personagem, que carrega o peso de um passado enigmático, opta por uma vida pacífica após perder sua esposa para a tuberculose. Sua prioridade torna-se criar o filho, Wyatt, como um jovem honesto, em vez de replicar o arquétipo do herói durão.

O roteiro mergulha em dilemas morais e éticos, oferecendo personagens complexos e ambíguos. O espectador nunca tem plena certeza de quem está do lado da verdade, e mesmo após o desfecho, as ações e métodos de cada personagem permanecem abertos à interpretação. Essa profundidade dá ao filme uma camada extra de envolvimento, forçando o público a refletir sobre as nuances de suas escolhas e consequências.

A ideia para o enredo nasceu quando Ponciroli, ao se deparar com a casa isolada, imaginou como seria viver sozinho em um lugar tão remoto. A partir disso, concebeu a premissa: e se, em meio à solidão, visitantes inesperados e ameaçadores surgissem, trazendo consigo segredos perigosos?

Essa reflexão ganha vida no filme, que segue Henry, um agricultor recluso vivendo em uma propriedade rural com o filho. O cotidiano tranquilo é interrompido quando ele encontra um cavalo com manchas de sangue e decide procurar o dono. Pouco depois, descobre um homem gravemente ferido com uma bolsa cheia de dinheiro. Ao acolhê-lo, Henry atrai a atenção de um grupo de homens que se apresentam como policiais, mas cujas intenções logo se revelam questionáveis.

A decisão de Henry de não entregar o homem antes de descobrir a verdade desencadeia uma série de eventos catastróficos. A violência explode quando o grupo cerca a casa, culminando em tiroteios intensos e revelações inesperadas sobre a verdadeira identidade de Henry. Nesse jogo de mentiras e lealdades duvidosas, o filme equilibra suspense, emoção e reviravoltas até o último minuto.

Estreando no prestigiado Festival de Veneza, “O Retorno da Lenda” conquistou a crítica por sua abordagem inovadora de um gênero tradicional. Em um período em que faroestes são raros, a obra de Ponciroli se destaca como um tributo ao clássico, enquanto explora novos caminhos narrativos. O filme oferece não apenas entretenimento, mas também uma experiência cinematográfica reflexiva, provando que mesmo com recursos limitados, é possível criar uma história impactante e memorável.

Filme: O Retorno da Lenda
Diretor: Potsy Ponciroli
Ano: 2021
Gênero: Ação/Drama
Avaliação: 10/10 1 1
★★★★★★★★★★