Proibido para cardíacos: o thriller intenso, com Ricardo Darín, que vai deixar seu coração na boca, na Netflix Divulgação / Patagonik Film Group

Proibido para cardíacos: o thriller intenso, com Ricardo Darín, que vai deixar seu coração na boca, na Netflix

O cinema argentino tem conquistado admiradores ao longo das décadas por sua habilidade de produzir narrativas densas, repletas de originalidade e interpretações marcantes. Nesse cenário, Ricardo Darín figura como um dos expoentes máximos, uma presença quase onipresente em produções aclamadas. “Abutres”, dirigido por Pablo Trapero, é um exemplo emblemático desse panorama. O longa-metragem alia o talento dramático de Darín à direção incisiva de Trapero, resultando em uma obra que transborda melancolia e tensão, sem jamais ultrapassar os limites do que a narrativa exige. 

No papel de Sosa, um advogado desiludido e expulso da ordem, Darín encarna a decadência e os dilemas morais de um homem que encontra sustento no submundo das tragédias. Ele vaga pela madrugada portenha em busca de vítimas de acidentes, oferecendo serviços jurídicos ou apólices de seguro de reputação duvidosa. O personagem transita entre a redenção e o oportunismo, movendo-se com a ambiguidade típica de um anti-herói trágico. Essas nuances são habilmente exploradas por Trapero, que extrai de Darín momentos de lirismo sombrio, traço que também seria revisitado em “Elefante Branco” (2012), embora com menor impacto.

A trama se desdobra em uma Buenos Aires despojada de glamour, onde a violência e a desesperança são tão onipresentes quanto os abutres do título. As cenas em preto e branco que abrem o filme, retratando um acidente de carro, funcionam como um prenúncio das profundezas morais que serão exploradas. Trapero não hesita em confrontar o espectador com imagens cruas, muitas vezes perturbadoras, que ecoam o lado mais visceral da condição humana. Essa abordagem remete, ainda que de forma distinta, ao trabalho de Dan Gilroy em “O Abutre” (2014), que também se debruça sobre os limites éticos de personagens que lucram com o infortúnio alheio.

O contraponto emocional da história surge na figura de Luján Olivera, vivida por Martina Gusmán. Médica dedicada a salvar vidas em situações de emergência, ela cruza o caminho de Sosa em um encontro que logo evolui para uma relação tanto amorosa quanto carregada de tensões éticas e emocionais. Gusmán imprime à personagem uma intensidade que alterna delicadeza e inquietação, criando uma dinâmica fascinante com Darín. Luján emerge como a versão feminina do anti-herói, uma figura igualmente complexa e fragmentada, cuja vulnerabilidade contrasta com a dureza do ambiente em que ambos vivem.

Conforme a narrativa avança, Trapero abraça a estética noir, intensificando a atmosfera sombria do filme. O terceiro ato revela as engrenagens do sistema corrupto que sustenta as atividades de Sosa, culminando em um embate perigoso com Casal, um mafioso interpretado com frieza por José Luis Arias. Esse confronto expõe as consequências inevitáveis da vida no submundo: mais violência, mais sangue, e a perda de qualquer possibilidade de redenção. 

Sem apelar para sentimentalismos ou didatismos, “Abutres” é um exemplar contundente do cinema argentino contemporâneo. A obra navega por temas universais de moralidade e sobrevivência, mantendo-se fiel a uma narrativa que desafia convenções e abraça a complexidade de seus personagens. Em comparação com boa parte das produções brasileiras, frequentemente marcadas por amarras ideológicas ou soluções fáceis, o filme de Trapero exibe uma liberdade criativa que impressiona, tornando-se um marco indispensável para quem aprecia narrativas que vão além do óbvio.

O cinema argentino tem conquistado admiradores ao longo das décadas por sua habilidade de produzir narrativas densas, repletas de originalidade e interpretações marcantes. Nesse cenário, Ricardo Darín figura como um dos expoentes máximos, uma presença quase onipresente em produções aclamadas. “Abutres”, dirigido por Pablo Trapero, é um exemplo emblemático desse panorama. O longa-metragem alia o talento dramático de Darín à direção incisiva de Trapero, resultando em uma obra que transborda melancolia e tensão, sem jamais ultrapassar os limites do que a narrativa exige. 

No papel de Sosa, um advogado desiludido e expulso da ordem, Darín encarna a decadência e os dilemas morais de um homem que encontra sustento no submundo das tragédias. Ele vaga pela madrugada portenha em busca de vítimas de acidentes, oferecendo serviços jurídicos ou apólices de seguro de reputação duvidosa. O personagem transita entre a redenção e o oportunismo, movendo-se com a ambiguidade típica de um anti-herói trágico. Essas nuances são habilmente exploradas por Trapero, que extrai de Darín momentos de lirismo sombrio, traço que também seria revisitado em “Elefante Branco” (2012), embora com menor impacto.

A trama se desdobra em uma Buenos Aires despojada de glamour, onde a violência e a desesperança são tão onipresentes quanto os abutres do título. As cenas em preto e branco que abrem o filme, retratando um acidente de carro, funcionam como um prenúncio das profundezas morais que serão exploradas. Trapero não hesita em confrontar o espectador com imagens cruas, muitas vezes perturbadoras, que ecoam o lado mais visceral da condição humana. Essa abordagem remete, ainda que de forma distinta, ao trabalho de Dan Gilroy em “O Abutre” (2014), que também se debruça sobre os limites éticos de personagens que lucram com o infortúnio alheio.

O contraponto emocional da história surge na figura de Luján Olivera, vivida por Martina Gusmán. Médica dedicada a salvar vidas em situações de emergência, ela cruza o caminho de Sosa em um encontro que logo evolui para uma relação tanto amorosa quanto carregada de tensões éticas e emocionais. Gusmán imprime à personagem uma intensidade que alterna delicadeza e inquietação, criando uma dinâmica fascinante com Darín. Luján emerge como a versão feminina do anti-herói, uma figura igualmente complexa e fragmentada, cuja vulnerabilidade contrasta com a dureza do ambiente em que ambos vivem.

Conforme a narrativa avança, Trapero abraça a estética noir, intensificando a atmosfera sombria do filme. O terceiro ato revela as engrenagens do sistema corrupto que sustenta as atividades de Sosa, culminando em um embate perigoso com Casal, um mafioso interpretado com frieza por José Luis Arias. Esse confronto expõe as consequências inevitáveis da vida no submundo: mais violência, mais sangue, e a perda de qualquer possibilidade de redenção. 

Sem apelar para sentimentalismos ou didatismos, “Abutres” destaca-se como um exemplar contundente do cinema argentino contemporâneo. A obra navega por temas universais de moralidade e sobrevivência, mantendo-se fiel a uma narrativa que desafia convenções e abraça a complexidade de seus personagens. Em comparação com boa parte das produções brasileiras, frequentemente marcadas por amarras ideológicas ou soluções fáceis, o filme de Trapero exibe uma liberdade criativa que impressiona, tornando-se um marco indispensável para quem aprecia narrativas que vão além do óbvio.

Filme: O Abutre
Diretor: Pablo Trapero
Ano: 2010
Gênero: Crime/Thriller
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★