Ria e se apaixone: a comédia romântica perfeita para iluminar seu sábado Divulgação / Columbia Pictures

Ria e se apaixone: a comédia romântica perfeita para iluminar seu sábado

Quando lançado em 2006 sob a direção de Nancy Meyers, “O Amor Não Tira Férias” não conquistou de imediato os críticos. Contudo, quase duas décadas depois, o longa se solidificou como um pilar das comédias românticas, continuando a atrair espectadores pela combinação envolvente de humor, romance e jornadas de autodescoberta. Por trás da leveza aparente, esconde-se uma narrativa que dialoga com questões essenciais da existência humana.

A trama se desenrola em torno de duas mulheres à beira do esgotamento emocional, que decidem trocar de casas para escapar da opressão de suas rotinas. Esse intercâmbio não apenas altera suas paisagens, mas catalisa profundas transformações pessoais. O enredo, embora simples na superfície, tece reflexões sobre o autocuidado, a ruptura com relações tóxicas e a redescoberta do próprio valor — temas que se mostram mais pertinentes do que nunca em uma sociedade contemporânea voltada à saúde mental e emocional.

Entre as personagens, a jornada de Iris (Kate Winslet) se destaca por seu impacto emocional. Aprisionada em um relacionamento destrutivo com Jasper (Rufus Sewell), Iris precisa reunir forças para se libertar do ciclo de manipulação que a consome. O momento em que ela finalmente rompe esses laços ressoa como um manifesto de emancipação pessoal, um ato de coragem que se alinha perfeitamente com os diálogos contemporâneos sobre relacionamentos saudáveis e autoestima. É uma cena que transcende o romantismo tradicional e se torna um símbolo de resiliência e renascimento.

Amanda (Cameron Diaz), por outro lado, reflete um dilema igualmente pertinente: a busca por equilíbrio entre uma carreira de sucesso e a satisfação emocional. Sua dificuldade em desligar-se do trabalho, mesmo em momentos de crise pessoal, representa um desafio familiar a muitos profissionais contemporâneos. Contudo, a narrativa nos lembra que a verdadeira força reside não em disfarçar vulnerabilidades, mas em reconhecê-las e integrá-las à nossa identidade. Aceitar imperfeições torna-se, assim, um ato de autoconhecimento e coragem.

Apesar de sua estética aconchegante e atmosfera leve, “O Amor Não Tira Férias” não escapa de críticas legítimas. A ausência de diversidade no elenco e a representação de uma realidade predominantemente privilegiada são aspectos que se tornam mais visíveis e questionáveis sob a perspectiva de 2024. Contudo, tais limitações não anulam suas qualidades. A obra permanece como um retrato fiel de seu tempo e uma peça de entretenimento que soube capturar a essência de uma geração.

A assinatura visual de Nancy Meyers — ambientes primorosamente decorados, figurinos que equilibram estilo e conforto, e cenários que parecem saídos de uma fantasia — não é apenas uma escolha estética. Essa atenção aos detalhes cria uma experiência sensorial que transforma o filme em um refúgio para o espectador, um espaço seguro onde é possível se perder por algumas horas e emergir renovado, com o espírito mais leve.

Outro aspecto curioso é como o filme antecipou mudanças sociais. A troca de residências entre as protagonistas, que ocorreu dois anos antes do surgimento do Airbnb, hoje soa profética. O que parecia um recurso narrativo engenhoso se revela uma previsão surpreendente sobre novas formas de viajar e conectar-se com o mundo, adicionando uma camada de relevância contemporânea à trama.

Porém, o verdadeiro legado de “O Amor Não Tira Férias” reside em sua habilidade de equilibrar realidade e fantasia sem oferecer resoluções definitivas. As perguntas permanecem: Amanda desistirá de sua vida nos Estados Unidos para ficar em Londres? Iris encontrará felicidade permanente em Los Angeles? Essas incertezas são parte do encanto do filme e refletem a natureza aberta e imprevisível da experiência humana.

Hoje, ao revisitá-lo, somos capazes de enxergar tanto suas imperfeições quanto seus méritos. A mensagem essencial, no entanto, permanece inabalável: independentemente do caos que nos cerca, sempre haverá espaço para recomeços, para descobertas inesperadas e para o amor — seja ele direcionado aos outros ou a nós mesmos.

Quase 20 anos após seu lançamento, “O Amor Não Tira Férias” transcende o rótulo de comédia romântica natalina. Como um bom vinho que ganha profundidade com o passar dos anos, o filme oferece uma celebração afetuosa da resiliência humana e da beleza de novos começos, mantendo-se um bálsamo reconfortante para a alma.

Filme: O Amor Não Tira Férias
Diretor: Nany Meyers
Ano: 2005
Gênero: Comédia/Romance
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★