Lançado em 2018, “A Maldição da Casa Winchester”, dirigido pelos irmãos Michael e Peter Spierig e roteirizado em colaboração com Tom Vaughn, é um thriller psicológico com elementos de terror, protagonizado por Helen Mirren, Jason Clarke e Sarah Snook. Por meio de atuações memoráveis e uma narrativa inquietante, o filme mergulha no folclore em torno de uma das residências assombradas mais notórias dos Estados Unidos.
A trama segue Eric Price (Clarke), um psiquiatra contratado pelos administradores da Winchester Repeating Arms Company para avaliar a saúde mental de Sarah Winchester (Mirren), viúva milionária e herdeira da empresa. A reclusa matriarca está empenhada em uma obsessiva e contínua expansão de sua mansão — uma construção errática, repleta de corredores labirínticos e aposentos desconexos, que se assemelha a um quebra-cabeça arquitetônico de pesadelo.
Nesse cenário de paranoia e luto, também habitam Marion (Snook), sobrinha de Sarah, e Henry (Finn Scicluna-O’Prey), seu filho pequeno, que começa a apresentar sinais de sonambulismo e é perseguido por entidades invisíveis. A princípio cético, Price acaba confrontado por manifestações sobrenaturais e memórias dolorosas de seu próprio passado, enquanto busca distinguir entre a realidade e o delírio na atmosfera opressiva da casa. Cada passo nessa investigação psicológica o aproxima de uma verdade perturbadora e de uma tentativa desesperada de preservar a razão.
A Mansão Winchester, localizada em San Jose, Califórnia, tem raízes que remontam a 1884 e continua sendo um ícone de mistério. Hoje um ponto turístico, é possível explorar os corredores intrincados e passagens ocultas que levam a uma profusão de cômodos — 169, para ser exato —, complementados por 40 escadarias tortuosas, 47 lareiras ornamentadas, dois salões de baile e uma impressionante contagem de mais de 10 mil janelas espalhadas por sete andares. A peculiaridade da construção inclui portas e janelas que se abrem para o vazio ou desembocam no chão, reforçando a sensação de um labirinto destinado a confundir tanto vivos quanto mortos.
A motivação por trás desse interminável projeto é tão fascinante quanto a própria casa. Após perder o marido e a filha, Sarah Winchester herdou não apenas uma fortuna substancial, mas também uma participação na lucrativa empresa de rifles Winchester. Segundo a lenda, um médium de Boston revelou-lhe que a família estava condenada a ser perseguida pelas almas ceifadas pelas armas da empresa. A solução sugerida foi criar um espaço onde esses espíritos pudessem vagar livremente, o que deu origem a uma construção que se estendeu por 38 anos, até a morte de Sarah em 1922.
Apesar das dimensões vastas da mansão, a filmagem no local foi limitada devido à falta de espaço para movimentação de equipamentos. Assim, os cineastas reconstruíram cenários minuciosos em estúdio, garantindo fidelidade visual ao original. A atenção aos detalhes foi meticulosa: desde a recriação das vestes de Sarah até a captura de sua complexa psique por Helen Mirren, que estudou profundamente os traços da reclusa herdeira. Entretanto, o psiquiatra Eric Price, interpretado por Clarke, é uma invenção ficcional, sem paralelos na história real.
“A Maldição da Casa Winchester” é mais do que uma narrativa de terror convencional; é um estudo das sombras que habitam tanto o sobrenatural quanto a mente humana. Ao mesclar fato e ficção, o filme explora o peso da culpa, o espectro do luto e os limites entre sanidade e desespero, oferecendo uma experiência tão perturbadora quanto a própria mansão que a inspirou.
★★★★★★★★★★