“Uma Ideia de Você”, traz Anne Hathaway como o coração de uma narrativa que explora com firmeza o etarismo e o sexismo, problemas ainda profundamente enraizados na sociedade e na mídia contemporâneas. Dirigido por Michael Showalter e coestrelado por Nicholas Galitzine, o longa entrelaça romance e crítica social em um cenário que mistura o brilho dos holofotes com as sombras do julgamento público.
Hathaway interpreta Solène, uma mulher de 40 anos, mãe de Izzy (Ella Rubin), uma adolescente de 16 anos. A trama se desenrola em meio ao vibrante festival de música Coachella, onde Solène, ao buscar um banheiro, acaba por acaso no trailer de Hayes (Galitzine), um jovem astro da boy band August Moon. O encontro fortuito entre a galerista e o cantor — marcado pela ausência de conhecimento sobre a identidade dele — se transforma em uma conexão genuína e inesperada.
O reencontro acontece durante uma sessão de autógrafos, onde Hayes se aproxima e descobre mais sobre Solène e sua galeria de arte em Silver Lake, Los Angeles. Determinado e encantado, ele toma a iniciativa de procurá-la, enquanto Solène reluta em aceitar os sentimentos que começam a surgir. O conflito interno dela é palpável: como uma mulher de 40 anos poderia permitir-se envolver-se com alguém que, em teoria, poderia ser o par romântico de sua filha? A hesitação é compreensível, mas a força do desejo e da conexão emocional logo se sobrepõe aos receios. Olhares, toques e conversas vão desenhando um romance que desafia as convenções sociais.
Quando o relacionamento é exposto pelos paparazzi, o julgamento vem rápido e sem piedade. A figura de Solène torna-se alvo de manchetes depreciativas, e sua imagem é transformada em símbolo de transgressão moral. A crítica não se concentra no relacionamento em si, mas na diferença de idade. Em uma sociedade onde homens maduros são frequentemente admirados por estarem com mulheres mais jovens, a situação se inverte cruelmente quando o gênero é feminino. Solène é pintada como imprudente, uma mãe desleixada, enquanto a sociedade, em sua hipocrisia, não concede às mulheres a mesma liberdade e indulgência que dá aos homens.
Essa dinâmica evidencia um padrão duplo irrefutável: homens mais velhos com parceiras jovens raramente sofrem reprovação; são as mulheres que carregam o peso das suposições maldosas e dos estereótipos corrosivos. Independentemente de sua posição ou sucesso profissional, elas são invariavelmente submetidas ao papel de antagonistas na narrativa pública.
Apesar das reflexões pertinentes, o filme deixa lacunas. Se por um lado Solène é uma personagem rica e tridimensional, ancorada pela atuação magnética e carismática de Hathaway, Hayes não desfruta da mesma profundidade. Galitzine entrega o que pode, mas seu personagem é uma figura de contornos superficiais, limitada a um ideal de perfeição estética que beira o irreal. Seu rosto quase etéreo, lembrando uma escultura clássica, encaixa-se na moldura de um conto de fadas, mas carece de complexidade emocional.
A inevitável comparação com “Um Lugar Chamado Notting Hill” se apresenta, embora o longa careça da química inconfundível de Hugh Grant e Julia Roberts ou do charme inegável das ruas londrinas. A ausência de nuances no roteiro não faz justiça ao potencial dos protagonistas, especialmente à versatilidade de Galitzine. No entanto, Hathaway eleva o material disponível com seu talento e presença inabaláveis, tornando-se o pilar que sustenta toda a narrativa.
Apesar de suas falhas, “Uma Ideia de Você” cumpre a função de oferecer entretenimento com uma pitada de reflexão social. Não se propõe a ser revolucionário, mas desperta um desconforto necessário ao nos lembrar das disparidades de gênero ainda vigentes. O filme desafia o público a questionar os padrões e a reconsiderar o quanto ainda estamos presos às expectativas arcaicas sobre o comportamento feminino.
No fim das contas, é um romance que ressoa ao mesmo tempo em que provoca. Um lembrete agridoce de que o amor pode ser simples, mas a sociedade insiste em complicá-lo — principalmente quando é vivido por uma mulher que ousa desafiar as regras não escritas.
★★★★★★★★★★