Ross Katz, ao adaptar o romance “A Escolha”, de Nicholas Sparks, propõe uma jornada que oscila entre a leveza da comédia romântica e a intensidade do drama, surpreendendo os menos preparados para essa mudança de tom. Baseado no 11º livro de Sparks a ganhar vida nas telas, o filme, com roteiro de Bryan Sipe, é ambientado na pitoresca Wilmington, Carolina do Norte, um cenário que reforça a atmosfera acolhedora e familiar, ainda que permeada pelo ar turístico da região.
No centro da narrativa está Gabby (Teresa Palmer), uma estudante de medicina que desfruta de uma vida tranquila à beira do lago até que seu novo vizinho, Travis (Benjamin Walker), um veterinário despreocupado e festeiro, começa a perturbar sua paz. Gabby, que valoriza a ordem e o silêncio, não tolera as festas regadas a som alto e, principalmente, culpa o cão de Travis pela gravidez inesperada de sua cadela. O primeiro encontro entre os dois é desastroso: Gabby despreza o charme despreocupado de Travis, que a provoca com uma autoconfiança que flerta com a arrogância.
Os encontros seguintes, no entanto, mudam o rumo dessa relação. Gabby, ao levar sua cadela à clínica veterinária, descobre a profissão de Travis, o que adiciona um toque de ironia ao seu desprezo inicial. Mais tarde, no parque de diversões da cidade, os dois se reencontram, agora acompanhados: Gabby com seu namorado, Ryan (Tom Welling), um médico de aparência impecável, e Travis com Monica (Alexandra Daddario), sua companhia habitual. Apesar das presenças, há uma tensão latente entre Gabby e Travis, ignorada pelos acompanhantes.
Esse vínculo mal disfarçado rapidamente evolui para algo mais intenso. Em um passeio de barco com amigos, Gabby e Travis se rendem à atração mútua, iniciando um romance que desafia a lealdade de Gabby a Ryan. O enredo, então, mergulha em um mar de obstáculos emocionais, característica marcante das histórias de Sparks, onde o amor é testado pelas adversidades.
No entanto, o ponto de inflexão do filme é marcado por uma transição abrupta. A narrativa toma um tom mais sombrio e melancólico, com saltos temporais que deixam o desenvolvimento dos personagens e suas decisões um tanto superficiais. As escolhas de Gabby e Travis, que deveriam ser o cerne emocional do filme, acabam diluídas por uma pressa em concluir a história. Embora o amor nem sempre siga o roteiro de um conto de fadas, como bem sugere o filme, a conclusão reafirma a ideia de que ele, no fim, triunfa.
Há ainda um aceno sutil a “Diário de uma Paixão”, a mais célebre obra de Sparks, quando Travis menciona um casal local agora vivendo em uma casa de repouso. Contudo, ao contrário da adaptação dirigida por Nick Cassavetes, que encantou por sua profundidade emocional e química irresistível entre os protagonistas, “A Escolha” não alcança o mesmo nível de encanto e dinamismo. Apesar disso, o filme encontra seu público: aqueles em busca de uma narrativa reconfortante, mesmo que previsível, para amenizar as dores da alma.
★★★★★★★★★★