Na Netflix: filme baseado em livro com 20 milhões de cópias vendidas, traduzido para 50 idiomas e que ficou 70 semanas na lista de best sellers do New York Times Divulgação / Summit Entertainment

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Yeshua, Muhammad, Siddharta Gautama, Vishnu. Deus assume formas e significados moldados por nossas crenças e expectativas. Pode ser um salvador, um facínora, um filósofo desapegado ou um espectador de nossa existência. Baruch Spinoza (1632-1677), em sua visão panteísta, sugeria que a natureza divina permeia tudo — um Criador que seria ao mesmo tempo impecável e perecível. Mas, enquanto a humanidade oscila entre o apocalipse e a conversão, Stuart Hazeldine aborda esse dilema em “A Cabana”, um drama que desafia a fé e a paciência de muitos. 

Adaptado do best-seller de William P. Young, publicado em 2007, o filme transita entre o sensacionalismo e a reflexão. Narrando a jornada de Mack Phillips, interpretado por Sam Worthington, “A Cabana” começa como uma história de luto, mas evolui para um debate sobre o livre-arbítrio e a natureza de Deus. Mack, um pai de família sereno, é abalado por uma tragédia devastadora: sua filha mais nova, Missy, desaparece durante um acampamento em circunstâncias traumáticas. Logo, o pior é confirmado — a menina foi vítima de um serial killer que há anos espalha terror pela região. Consumido pela dor e pela culpa, Mack encontra na cabana onde a tragédia começou um inesperado convite ao diálogo com o divino.

Hazeldine coloca Octavia Spencer como uma representação singular de Deus, desafiando paradigmas ao encarná-lo como uma mulher negra, calorosa e acolhedora, que ouve reggae enquanto prepara biscoitos. Ao lado dela, Avraham Aviv Alush e Sumire Matsubara interpretam Jesus e o Espírito Santo, trazendo um simbolismo multicultural que, embora bem-intencionado, flerta perigosamente com a caricatura. 

No entanto, a força do filme reside nas perguntas que levanta: Deus é onipotente, mas indiferente ao sofrimento humano? Ou seria incapaz de intervir na maldade que permeia a humanidade? Em meio a essas questões, Mack confronta não apenas o Criador, mas também seus próprios demônios, como o trauma de um pai abusivo que ele tentou matar na infância. A cabana torna-se, assim, palco de um acerto de contas emocional e espiritual.

Apesar de momentos de profundidade, o filme sofre com o peso da autoajuda e uma tendência ao melodrama, que dilui o impacto de suas mensagens mais nobres. O segredo compartilhado entre Missy (Amélie Eve) e o habitante divino da cabana adiciona alguma solidez à narrativa, mas não consegue dissipar totalmente a sensação de que a obra se apoia em clichês religiosos e soluções fáceis. 

“A Cabana” é uma reflexão sobre a dor, o perdão e a possibilidade de redenção. Embora tropece em sua execução, provoca um diálogo necessário sobre fé e resiliência, lembrando-nos de que, mesmo em meio à escuridão, a busca por sentido é um ato essencialmente humano.

Filme: A Cabana
Diretor: Stuart Hazeldine
Ano: 2017
Gênero: Drama/Fantasia
Avaliação: 7/10 1 1
★★★★★★★★★★