Se você gosta de “Bebê de Rosemary”, precisa assistir ao terror psicológico com Kit Harington que acaba de chegar à Netflix Divulgação / Point Productions

Se você gosta de “Bebê de Rosemary”, precisa assistir ao terror psicológico com Kit Harington que acaba de chegar à Netflix

Quando não somos pais, é comum ouvirmos as pessoas falarem da maternidade como algo mágico, instintivo e transformador. Costuma-se romantizar a gravidez, o parto e os primeiros anos de vida do bebê, como se tudo isso fosse fácil de vivenciar. No entanto, poucos comentam a realidade por trás desse percurso, especialmente do ponto de vista da mãe.

Em “Bebê Ruby”, a roteirista e diretora Bess Wohl transforma a depressão pós-parto em um suspense psicológico sem exageros. Quem já enfrentou essa condição sabe que, muitas vezes, a mulher sente-se como se estivesse vivendo dentro de um filme de horror.

Na trama, Noémie Merlant interpreta Jo, uma influencer francesa que vive fora de seu país de origem ao lado do marido, sem qualquer apoio familiar, exceto o da sogra. E, sejamos francos, independentemente de ser bem-intencionada ou não, a sogra dificilmente oferece à puérpera a segurança e o acolhimento necessários nessa fase — pelo menos, não para todas.

Jo é casada com Spencer (Kit Harington), um açougueiro, marido e pai presente, que se esforça para ajudar nos cuidados da casa e da filha. Ainda assim, não hesita em reforçar que é o único da casa que “trabalha de verdade” — um discurso que se repete em muitas famílias, infelizmente.

Após o nascimento de sua filha, a pequena Ruby, a vida de Jo começa a sair de controle. Ela enfrenta o choro incessante do bebê, noites sem dormir e a constante sensação de fracasso como mãe. Na tentativa de encontrar alívio, Jo conhece Shelly (Meredith Hagner), que a apresenta a um grupo de mães da vizinhança. Inicialmente, ela acredita que conectar-se com mulheres na mesma fase da vida pode ser reconfortante. Porém, ao observar as outras mães — sempre arrumadas, sorridentes e em forma, passeando com seus bebês tranquilos pelo parque —, Jo sente-se ainda mais inadequada, como se a maternidade fosse algo que apenas ela não conseguisse dominar.

Gradualmente, Jo começa a ter alucinações e visões perturbadoras, sem conseguir distinguir o que é real do que é ilusão. Sua mente a arrasta para uma espiral de psicose e paranoia, na qual acredita estar sendo seguida e desconfia que todas as pessoas ao seu redor fazem parte de um culto cujo objetivo é roubar seu bebê.

A experiência de Jo reflete a realidade de inúmeras mães que, ao compararem suas vidas às de outras mulheres, sentem-se esmagadas por um ideal inatingível. Aquelas que parecem cozinhar, cuidar dos filhos, manter a casa em ordem e ainda exibir sorrisos perfeitos acabam reforçando um padrão irreal de maternidade feliz e equilibrada. “Bebê Ruby” conduz o espectador por um caminho de incertezas, onde as suspeitas de Jo podem se confirmar ou ser fruto de um profundo adoecimento emocional. De qualquer forma, o filme abre espaço para reflexões importantes sobre o peso da maternidade, a desigualdade de vivências entre mulheres e os prejuízos de perpetuar a ilusão da maternidade perfeita — especialmente nas redes sociais.

Essa falsa narrativa afeta profundamente mulheres que lutam sozinhas, sem rede de apoio, com filhos que demandam maiores cuidados e sensibilidade. “Bebê Ruby” não apenas expõe essas dificuldades, mas também serve como um lembrete da importância de acolhermos as mães em suas jornadas, sem julgamentos ou expectativas irreais.

Filme: Baby Ruby
Diretor: Bess Wohl
Ano: 2022
Gênero: Drama/Suspense/Terror Psicológico
Avaliaçao: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★
Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.