James Wan transforma “Velozes e Furiosos 7” em algo que transcende o próprio conceito do filme. O diretor utiliza com maestria os artifícios estilísticos que marcaram seus sucessos anteriores, como “Sobrenatural” (2010), “Invocação do Mal“ (2013) e “Jogos Mortais” (2004). Contudo, ao contrário dessas obras que lançaram franquias icônicas, aqui ele atinge um equilíbrio notável entre audácia e fluidez. A narrativa flui sem esforço, dispensando artifícios para convencer o público e entregando o que se espera de uma história desse calibre: ação intensa, violência bem orquestrada e uma dose surpreendente de emoção que conquista até os espectadores mais exigentes. O roteiro, resultado da colaboração entre Chris Morgan e Gary Scott Thompson, explora novas facetas da vida intrépida de um grupo de entusiastas por motores, respondendo à questão central com a ousadia característica de Wan: o que mais pode ser inovador em uma saga sobre corredores que desafiam limites?
Os telhados de Londres ganham um brilho especial sob a direção de fotografia impecável de Marc Spicer e Stephen F. Windon, um destaque que se torna impossível ignorar. A estética sofisticada eleva a experiência visual, suavizando a previsibilidade de uma trama que, em muitos momentos, ecoa referências a capítulos anteriores. Para acompanhar o enredo, é quase obrigatório revisitar momentos-chave da franquia. Agora, Deckard Shaw, interpretado por Jason Statham, está obcecado em hackear o sistema de Luke Hobbs para localizar Dominic Toretto e seu grupo, um desdobramento direto do longa anterior. A chantagem de Hobbs — agora suavizada como uma manobra estratégica — força Toretto e seus aliados a enfrentar uma organização mercenária liderada por Owen Shaw, irmão de Deckard. Dwayne Johnson, no papel de Hobbs, traz uma presença carismática e sólida, adicionando nuances ao personagem enquanto dilui a rigidez de uma narrativa saturada de adrenalina e carros potentes.
Michelle Rodríguez, por sua vez, brilha como Letty Ortiz, mesmo enfrentando o dilema moral de uma amnésia explicada em “Velozes e Furiosos 6” (2013). Considerada morta e atormentada por lacunas em sua memória, Letty resiste ao caos ao perceber a integridade de Dom, mesmo sem lembranças concretas do passado. Seu retorno ao núcleo da história não é apenas uma questão de sobrevivência, mas também de reconstrução, mesmo que isso signifique navegar por territórios perigosos com Shaw à espreita. Rodríguez recorre ao seu carisma inegável para superar os momentos de estagnação no ritmo, especialmente após sequências de ação magistralmente coreografadas que marcam o filme.
A entrada de Kurt Russell como o enigmático Sr. Ninguém no segundo ato adiciona uma camada intrigante à trama. Representando um poder invisível, mas onipresente, ele apresenta o Olho de Deus, um sistema de vigilância sofisticado capaz de localizar qualquer pessoa. Essa tecnologia se torna peça central na caçada a Deckard, envolvendo Dom em uma missão que ele preferia resolver com seus próprios métodos diretos. Apesar de suas inclinações primitivas, a perseguição tecnológica adiciona uma dinâmica moderna ao filme, culminando em confrontos onde mísseis e explosões desafiam a lógica, mas não tiram o brilho do espetáculo.
O desfecho de “Velozes e Furiosos 7” atinge um tom duplamente simbólico: solar em sua celebração da vida, mas profundamente melancólico pela homenagem a Paul Walker (1973-2013), tragicamente falecido em um acidente de carro dois anos antes. Essa ironia pungente ressoa como um tributo sincero e repleto de simbolismo, encerrando a obra com uma nota agridoce que transcende o gênero, transformando o filme em um marco emocional para fãs e espectadores.
★★★★★★★★★★