Do cinema para o streaming: 163 dias no Top 10 e 2,5 bilhões em bilheteria — Dwayne Johnson no Prime Video Divulgação / Warner Bros.

Do cinema para o streaming: 163 dias no Top 10 e 2,5 bilhões em bilheteria — Dwayne Johnson no Prime Video

Por volta de 2600 a.C., nas terras de Kahndaq, um reino envolto em mistério no Oriente Médio, um profeta de uma crença clandestina tornou-se a última esperança de um povo oprimido. No entanto, eventos catastróficos interromperam séculos de sofrimento contínuo, deixando um rastro de tragédias. Esse homem venerável, cuja essência transcendeu o tempo, emerge séculos depois, movido pelo desejo de retribuir as injustiças que desonraram sua posição e devastaram seu povo.

“Adão Negro”, uma das produções mais inusitadas do gênero de super-heróis da DC, rompe paradigmas ao explorar territórios pouco convencionais. Sob a direção de Jaume Collet-Serra, a narrativa combina ação estilizada e dilemas morais profundos, transformando o protagonista em um símbolo de resistência e contradição. O enredo apresenta Teth-Adam, um guerreiro dotado de um senso peculiar de justiça, que ressurge após cinco milênios para desafiar o destino imposto à sua tribo.

O retorno de Adam não apenas devolve a esperança que seu povo jamais conheceu, mas também instaura uma sombra de destruição sobre os descendentes daqueles que oprimiram sua comunidade. Essa dualidade é reforçada pela interpretação carismática de Dwayne “The Rock” Johnson, cuja presença magnética transcende a tela. Johnson empresta ao personagem uma complexidade rara, oscilando entre heroísmo e vilania, entre nobreza e arrogância, traduzindo um reflexo da ambiguidade inerente à condição humana. O roteiro, assinado por Rory Haines, Sohrab Noshirvani e Adam Sztykiel, constrói um anti-herói fascinante, que não busca se encaixar nas molduras tradicionais de certo ou errado.

Collet-Serra reafirma sua habilidade em manipular tensão e estilo, como já demonstrado em obras anteriores, como “Águas Rasas” (2016). Em “Adão Negro”, ele revisita elementos clássicos de gêneros distintos, tecendo referências sofisticadas que dialogam com o faroeste spaghetti de Sérgio Leone, especialmente “Por Um Punhado de Dólares” (1964), e com a estética samurai de Akira Kurosawa em “Yojimbo” (1961). Assim como a fictícia San Miguel de Leone, Kahndaq emerge como um cenário sufocante, marcado pela ausência de ordem e pela presença de figuras moralmente ambíguas, que flertam com a tênue linha entre o heroísmo e o anti-heroísmo.

Dwayne Johnson, com sua interpretação minimalista e precisa, presta uma homenagem discreta a Clint Eastwood, trazendo ecos de um pistoleiro sem nome ao seu Teth-Adam. Essa atuação ganha ainda mais profundidade graças à fotografia de Lawrence Sher e à criação de cenários digitais imersivos, que intensificam o impacto dos embates épicos entre Adam e seu antagonista, Sabbac, vivido por Marwan Kenzari.

Outro ponto alto do filme é a performance de Pierce Brosnan como Doutor Destino, cuja sabedoria melancólica e reflexões filosóficas adicionam camadas inesperadas à narrativa. Suas ponderações transcendem o contexto da trama, apresentando um passado que se perpetua no presente e delineando um futuro inevitavelmente marcado por conflitos. Brosnan eleva o filme ao infundir um senso de tragédia e grandiosidade, proporcionando um equilíbrio necessário à energia explosiva de Johnson.

“Adão Negro” não é apenas uma narrativa de super-heróis; é uma exploração profunda da complexidade humana e dos dilemas morais que atravessam os séculos. Com uma direção ousada, performances impactantes e uma trama carregada de referências culturais, o filme desafia as convenções do gênero, oferecendo uma experiência cinematográfica tanto visceral quanto reflexiva.

Filme: Adão Negro
Diretor: Jaume Collet-Serra
Ano: 2022
Gênero: Ação/Aventura
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★