Há cerca de dois anos, ao passar por um problema de saúde, recebi mensagens e telefonemas de amigos, suporte familiar e compreensão de colegas de trabalho. Algo óbvio, mas que nem sempre paramos para elaborar e colocar em prática veio à tona: devemos nos empenhar em cuidar daqueles que amamos com a mesma intensidade com que gostamos de ser cuidados.
Relações são vias de mão dupla. Dificilmente perseveram sem gentilezas mútuas (com exceção de casos em que há prazer na subserviência, apego extremo e dependência emocional). No entanto, até em relações saudáveis é comum que uma das partes caia no erro de esperar demais e retribuir pouco. Há os que acreditem ter o direito de receber carinhos que acalentam o coração no momento de dor. Passada a tempestade particular, seguem com o peito apaziguado, olhando apenas para a própria vida, alheios às turbulências de quem os ajudou.
Parece apenas egoísmo, mas nem sempre é. Algumas vezes é incapacidade de empatia — não por maldade, mas por falta de hábito. E serve para situações extremas e triviais. Quantos de nós já nos sentimos amparados quando recebemos apoio em hospitais e velórios? Quão felizes foram os aniversários com casa cheia e os almoços preparados com nossa comida preferida? Quão prestigiados nos sentimos com a presença dos que se compadecem com nossos dramas e festejam conosco nossas vitórias?
Em contrapartida, quantas vezes adiamos a visita ao colega doente porque a vida está uma correria? Quantas vezes optamos pelo e-mail cumprimentando a amiga pela conclusão do curso de seu filho em vez de abraçá-la na colação de grau? Quantos convites rejeitamos por falta de tempo, sem nos darmos conta de que do outro lado havia alguém esperando por nós e precisando de apreço e atenção? Quantas vezes deixamos que a preguiça e a ausência de entrega se transformem em descaso?
Todos gostamos de ser paparicados. Sobretudo, todos precisamos de amparo. Nos pequenos gestos do dia a dia podemos ser salvos e salvar também. Semanas depois do meu problema de saúde, já em processo de recuperação, possível graças à assistência médica e à assistência afetiva de pessoas especiais, li uma frase do Chico Xavier que resumia aquele período de angústia seguido de alento: “Abençoemos aqueles que se preocupam conosco, que nos amam, que nos atendem as necessidades… valorizemos o amigo que nos socorre, que se interessa por nós, que nos escreve, que nos telefona para saber como estamos indo. Mais tarde, haveremos de sentir falta daqueles que não nos deixam experimentar solidão”. Quando não negligenciamos o outro, somos agraciados com amor.