A obra-prima que vai fazer seu coração parar: filme de Darren Aronofsky indicado a 122 prêmios e vencedor de 2 Oscars, na Netflix Divulgação / A24

A obra-prima que vai fazer seu coração parar: filme de Darren Aronofsky indicado a 122 prêmios e vencedor de 2 Oscars, na Netflix

O retorno triunfal de Brendan Fraser em “A Baleia” transcende a mera narrativa cinematográfica, oferecendo uma experiência profundamente humana e devastadora. Após anos longe dos holofotes devido a um corajoso enfrentamento contra os abusos de poder em Hollywood, Fraser ressurge sob a direção de Darren Aronofsky, conhecido por sua capacidade de dissecar a psique humana em filmes como “Réquiem para um Sonho” e “Cisne Negro”. Baseado na peça de Samuel D. Hunter, o filme nos prende em um pequeno apartamento, mas é dentro dessas paredes que uma história monumental se desenrola.  

Fraser dá vida a Charlie, um professor de inglês cuja obesidade extrema não é apenas uma condição física, mas uma personificação do peso de suas culpas. Recluso em sua residência, ministrando aulas online para esconder seu corpo, Charlie parece resignado ao seu destino. O filme não se limita a narrar uma história de saúde debilitada; ele investiga as razões que levaram Charlie a esse estado, revelando, aos poucos, suas feridas emocionais e seu profundo desejo de reconciliação.  

O enredo gira em torno de uma semana na vida de Charlie, marcada por um esforço desesperado de reaproximação com sua filha, Ellie, interpretada com intensidade por Sadie Sink. A adolescente carrega ressentimentos acumulados desde que o pai abandonou a família para viver um romance, tornando sua reconexão um desafio quase intransponível. Charlie, em seus últimos dias, vê nessa reconciliação sua derradeira oportunidade de redenção, mas Ellie, amargurada e defensiva, não facilita o caminho.  

Liz (Hong Chau), amiga leal e enfermeira, é o fio de esperança que insiste em mantê-lo ligado à vida, enquanto Thomas (Ty Simpkins), um jovem missionário, busca salvá-lo espiritualmente. Cada um representa uma faceta da luta interna de Charlie: o desejo de sobrevivência, a necessidade de absolvição e o peso do arrependimento.  

A escolha do título não é acidental. “A Baleia” ecoa a narrativa de “Moby Dick”, onde a perseguição obsessiva ao inatingível destrói o caçador. No caso de Charlie, a “baleia” é a representação de seu passado e arrependimentos. Sua compulsão alimentar emerge como uma punição autoinfligida, um ciclo vicioso de autoflagelo e prazer momentâneo. O pequeno apartamento não é apenas o cenário físico; é uma extensão de sua prisão emocional e do vazio existencial que o consome.  

Aronofsky utiliza o espaço claustrofóbico para intensificar a angústia. Cada objeto, cada sombra, parece respirar a dor de Charlie. A cinematografia intimista captura não só a degradação física, mas também a profundidade emocional do personagem. A transformação de Fraser em cena é brutalmente honesta, revelando camadas de fragilidade e força que poucos atores seriam capazes de expressar.  

A atuação de Fraser transcende a tela, arrastando o espectador para o mundo de Charlie. Sua performance não é apenas comovente; é visceral, marcada por cada olhar, cada suspiro, cada gesto de um homem à beira do abismo. Sua interpretação lhe rendeu o Oscar de Melhor Ator em 2023, mas mais do que uma conquista profissional, é um testemunho de sua própria resiliência pessoal e artística.  

Hong Chau, indicada a Melhor Atriz Coadjuvante, traz uma presença terna e poderosa, enquanto a maquiagem, premiada com o Oscar, transforma a fisicalidade de Charlie em um componente vital da narrativa, reforçando visualmente o fardo emocional que ele carrega.  

“A Baleia” não é apenas um filme sobre um homem lidando com seus demônios internos. É um estudo sobre a condição humana, sobre a capacidade de infligir e suportar dor, sobre o desejo de redenção mesmo quando tudo parece perdido. A obra de Aronofsky convida o público a olhar para dentro, a questionar suas próprias cicatrizes e a considerar o impacto de suas ações nas vidas daqueles ao seu redor.  

O filme é um exemplo de como o cinema, em sua essência mais pura, pode tocar profundamente o espectador, abordando complexidades universais a partir de histórias individuais. “A Baleia” não apenas nos lembra do poder do perdão e da necessidade de conexão, mas também nos desafia a enfrentar nossos próprios monstros internos, com coragem e humanidade.

Filme: A Baleia
Diretor: Darren Aronofsky
Ano: 2023
Gênero: Drama
Avaliaçao: 10/10 1 1
★★★★★★★★★★
Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.