Robôs colossais, prisioneiros em um planeta que não é o seu lar, enfrentam adversários extraterrestres cujo verdadeiro perigo reside em sua devoção a um deus devastador, capaz de obliterar mundos inteiros para perpetuar sua existência. Este é o cenário de “Transformers: O Lado Oculto da Lua”, uma obra que, sob a direção de Michael Bay, aprofunda o flerte da franquia com sátiras sociopolíticas, expondo com ironia as possíveis desventuras do futuro da humanidade. Mais do que um espetáculo visual, o filme é um comentário ácido sobre poder, subjugação e a complexa relação entre progresso tecnológico e degradação moral.
Michael Bay, conhecido por transformar veículos comuns em imensas figuras autômatas prontas para batalhas apocalípticas, amplia aqui a carga ideológica que permeia os capítulos anteriores da franquia. Enquanto Autobots e Decepticons lutam pela supremacia em um planeta devastado, o maniqueísmo do diretor reaparece como um elemento polarizador, ao mesmo tempo intrigante e limitador. A fórmula já consagrada pelos filmes anteriores é reciclada com a inclusão de novas ameaças, mas o resultado final tropeça no excesso de pretensão e na previsibilidade.
O filme sugere que o destino da humanidade pode estar nas mãos de máquinas que criamos, mas jamais compreendemos plenamente. Há um convite subversivo a pensar se, diante de nosso contínuo retrocesso, essas entidades superiores poderiam realmente ser nossos salvadores. Contudo, a narrativa, elaborada pelo roteirista Ehren Kruger, rejeita amarras lógicas que poderiam sufocar o apelo de um público já predisposto a comprar qualquer premissa, por mais absurda que pareça. É neste território de permissividade criativa que a trama se desenrola, sustentada por confrontos épicos e uma atmosfera de destruição iminente.
Sam Witwicky (Shia LaBeouf) e Carly (Rosie Huntington-Whiteley), apesar de desempenharem o papel de heróis relutantes, são figuras secundárias diante do espetáculo principal: a batalha entre máquinas titânicas que se agigantam, tanto em tamanho quanto em simbolismo. Entretanto, o filme se apresenta como um produto para fãs já familiarizados com o universo de Bay, deixando pouco espaço para iniciantes.
O apogeu da grandiloquência ocorre com a colisão de uma monumental estrutura metálica contra a superfície lunar, um momento que reflete tanto a ambição do diretor quanto as limitações de sua abordagem. É um retrato da era atual, em que a busca por soluções miraculosas e messiânicas frequentemente desvia o foco das questões reais. Como na Inglaterra medieval, onde soldados morriam por reis e desacreditavam nos magos, o longa sugere que o homem moderno também ignora a realidade enquanto se entrega a delírios grandiosos.
Ao final, “O Lado Oculto da Lua” não apenas reforça a tendência da franquia a explorar dilemas éticos e políticos disfarçados de ficção científica, mas também expõe as fraquezas de sua fórmula repetitiva. É uma reflexão — ainda que involuntária — sobre o custo de confiar no extraordinário enquanto se negligencia o que está ao alcance humano.
★★★★★★★★★★