Bruce A. Evans, mais conhecido por seu trabalho como roteirista, dirigiu apenas dois longas em toda sua carreira: “Um Tira por Acaso” e “Instinto Secreto”. Ao lado de seu parceiro de longa data, Reynold Gideon, Evans construiu um legado cinematográfico sólido, especialmente com “Conta Comigo” (1986), cuja trama sensível sobre amizade rendeu uma indicação ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado. No entanto, foi em “Instinto Secreto” (2007) que a dupla ousou explorar um território mais sombrio, conduzindo Kevin Costner a um papel inesperado e desafiador.
Costner vive Earl Brooks, um empresário respeitado e pai de família exemplar que esconde um segredo mortal: é um assassino em série meticuloso, cujo modus operandi envolve encenar cenas de amor com as vítimas. Apesar de anos sem matar, sua compulsão ressurge, manifestada por seu alter ego, Marshall (William Hurt), que personifica seus desejos mais sombrios. Essa dinâmica interna é o coração pulsante do filme, oferecendo uma visão perturbadora da batalha psicológica entre moralidade e instinto.
A narrativa se intensifica com a entrada de Tracy Atwood (Demi Moore), uma detetive obstinada que está determinada a desvendar a identidade do assassino, e de Smith (Dane Cook), um fotógrafo que descobre o segredo de Earl e o chantageia. A constante tensão entre ser desmascarado e ceder aos impulsos assassinos cria uma atmosfera sufocante. Cada diálogo entre Earl e Marshall é como uma janela para a psique humana, revelando como até mesmo um homem aparentemente perfeito pode esconder um lado monstruoso.
A fotografia do filme desempenha um papel fundamental ao destacar a dualidade do protagonista. Planos que isolam os personagens e o uso recorrente de reflexos e espelhos reforçam a divisão entre o homem público e o monstro privado. Essa escolha visual sublinha o dilema moral de Earl e a introspecção que permeia cada decisão sua, conduzindo o espectador por um labirinto psicológico.
Kevin Costner, tradicionalmente associado a papéis de heróis íntegros, surpreende ao se transformar em um vilão complexo e multifacetado. O roteiro, escrito especialmente para ele, desafia sua imagem pública e evidencia sua versatilidade. Embora “Instinto Secreto” tenha dividido a crítica, seu papel provou que mesmo atores conhecidos por sua postura heroica podem habitar zonas de ambiguidade moral com maestria.
O filme é um espelho perturbador da sociedade, onde poder e status frequentemente mascaram segredos sombrios. Ao expor a hipocrisia social e os perigos de julgar pela superfície, “Instinto Secreto” nos força a questionar: até que ponto conhecemos aqueles que admiramos?
★★★★★★★★★★