Em 2015, Ryan Coogler trouxe um novo fôlego ao legado de Rocky Balboa com o marcante “Creed: Nascido para Lutar”. Pela primeira vez, o icônico boxeador, interpretado por Sylvester Stallone, foi retirado do ringue para enfrentar um adversário ainda mais implacável: o envelhecimento. Stallone, cuja carreira havia se tornado sinônimo de heróis de ação musculosos, encontrou nas nuances emocionais de um Rocky vulnerável uma profundidade há muito esquecida, entregando uma das interpretações mais maduras de sua trajetória. O desempenho rendeu-lhe uma indicação ao Oscar, despertando esperanças de que uma nova fase mais reflexiva estivesse se desenhando para o ator.
Essas expectativas, contudo, logo se dissiparam. Stallone optou por retornar a papéis marcados pela ação estereotipada, negligenciando o potencial de reinvenção como um ator voltado para personagens densos. “O Samaritano”, lançado em 2022 pela Amazon, ilustra bem essa escolha. Apesar de escapar brevemente das grandes franquias como “Rambo” e “Os Mercenários”, o filme falha em explorar as camadas dramáticas prometidas. Há vislumbres de algo mais profundo, mas eles rapidamente dão lugar a uma narrativa previsível e genérica, refletindo o desgaste do gênero de super-heróis.
Originalmente filmado em 2020 e atrasado por diversas razões, “O Samaritano” foi diretamente ao streaming após a aquisição da MGM pela Amazon. Dirigido por Julius Avery, de “Operação Overlord”, o longa apresenta uma produção visualmente caprichada, reminiscente dos universos Marvel e DC. A trama, escrita por Bragi F. Schut, acompanha a lenda de Samaritano, um herói que desapareceu após uma batalha fatal contra seu irmão vilão, Nêmesis. Javon Walton, de “Euphoria”, interpreta um garoto fascinado pela história, que acredita ter encontrado o herói em um homem discreto, mas imponente.
Stallone assume o papel de um veterano endurecido, um eco de sua atuação em “Creed”, mas aqui sem a profundidade emocional que destacou aquele filme. Isso não é inteiramente culpa dele; o roteiro de Schut é raso, desperdiçando a oportunidade de explorar a complexidade de um super-herói que escolhe o anonimato após anos de glória. A ambientação de Granite City até insinua um subtexto interessante, onde fãs do herói e do vilão coexistem, com simpatizantes de Nêmesis ganhando força em meio à crise econômica. A ideia de um vilão populista versus um herói elitista poderia ter oferecido um comentário social mais audacioso, mas permanece apenas como pano de fundo.
Infelizmente, esses elementos promissores são soterrados por clichês do gênero. A narrativa segue o caminho desgastado de tantas outras produções, culminando em uma batalha final entre o bem e o mal. Pilou Asbæk, conhecido por “Game of Thrones”, interpreta o antagonista obcecado por Nêmesis, mas seu papel é genérico e desprovido de carisma. Mesmo a ação, embora tecnicamente competente, não oferece nada além de um desfile de explosões, tiros e combates previsíveis. Uma reviravolta no último ato tenta trazer frescor, mas é tão evidente desde os minutos iniciais que pouco impacta.
Para alguns, “O Samaritano” pode oferecer uma diversão despretensiosa, uma escolha segura em meio ao mar de opções do streaming. Contudo, para quem espera inovação ou profundidade, o filme decepciona, reafirmando a saturação de um gênero que, ao insistir em fórmulas desgastadas, começa a perder o brilho. Em vez de revitalizar a imagem heroica de Stallone, o longa apenas reforça sua associação com histórias medíocres, tornando “O Samaritano” mais uma oportunidade perdida do que um resgate memorável.
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