A tecnologia é uma aliada valiosa, mas não há quem nunca tenha tropeçado em suas possibilidades quase infinitas. É nesse terreno de confusões e encontros improváveis que se desenrola “Uma Mensagem Antes do Natal”, mais uma comédia romântica ambientada no brilho e nas tradições do período natalino. O diretor T.W. Peacocke, já familiarizado com narrativas que exploram paixões inesperadas e desencontros, retoma a fórmula que transforma os últimos dias antes do Natal em um cenário de promessas, reconciliações e mágica — tudo isso, claro, sob o rigoroso inverno do hemisfério norte. O roteiro de Cara J. Russell é um tributo à atmosfera encantadora do Natal, com direito a luzes cintilantes, lares acolhedores e aquela sensação de que o impossível pode acontecer. Porém, essa abundância de clichês e sentimentalismo corre o risco de cansar até o público mais indulgente.
No centro da história está Addie, uma jovem de vida ordinária que, perto do fim do ano, janta com seu pai, Bruce, interpretado por Rob Stewart. Viúvo e recém-aposentado, Bruce está desfrutando da liberdade de viajar pelo mundo. É após um desses jantares que Addie retorna para casa e, inesperadamente, recebe uma mensagem de vídeo de uma senhora chamada Nana. O equívoco inicial — a mensagem deveria ter chegado à neta de Nana, Paige — evolui para um diálogo despretensioso e, mais tarde, para uma amizade peculiar. Esse relacionamento, apesar de cordial, traz uma tensão sutil e desconcertante.
Com outra direção, “Uma Mensagem Antes do Natal” poderia enveredar por caminhos mais sombrios, talvez se transformando em um thriller natalino no estilo de “Noite Infeliz” (2022), de Tommy Wirkola. No entanto, Peacocke mantém-se fiel ao convencional e conduz o enredo para as montanhas nevadas de Vermont — ainda que, na realidade, as cenas tenham sido filmadas em Toronto. É para lá que Addie vai, a convite de Nana (ou Maybel, como é chamada por quem não compartilha intimidade), para passar o Natal com a família da nova amiga.
As sequências em Vermont oferecem o aconchego visual e emocional que se espera de uma produção natalina. Ainda assim, o roteiro sublinha o desconforto inicial dos familiares de Maybel em relação à inesperada Addie. Merritt Patterson e Jayne Eastwood brilham como uma dupla mais convincente que Addie e James, o neto de Maybel. Interpretado por Trevor Donovan, James forma com Addie um par romântico cujo charme é ofuscado pelo núcleo mais intrigante da história: o vínculo entre duas mulheres de gerações e mundos distintos. Esse elo improvável, forjado por um acaso e sustentado por suas dores e solidões, transcende os clichês típicos, oferecendo um toque de autenticidade em meio à previsibilidade.
No fim, “Uma Mensagem Antes do Natal” entrega o que promete: um conto leve, adornado pela nostalgia e pela magia da época. Ainda que a produção não se aventure a quebrar paradigmas ou surpreender, seu maior trunfo está na forma como celebra conexões humanas, provando que até os tropeços tecnológicos podem ser o início de algo transformador — especialmente em dezembro, quando até o destino parece mais generoso.
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