Robôs espaciais gigantes estão aprisionados na Terra, e, enquanto não conseguem voltar para a esquina cósmica de onde saíram, deparam-se com outros alienígenas, esse, sim, verdadeiramente perigosos. Eles servem a um deus tão perverso e tão grande que arrasa planetas inteiros para manter-se vivo. Há sempre um elemento de sátira sociopolítica em filmes que denunciam as mazelas do que pode vir a se tornar a vida na Terra num prazo que talvez nem seja assim tão longo, e “Transformers: O Lado Oculto da Lua” confirma a tendência. A franquia, já cheia de possibilidades doutrinárias por si só, torna-se ainda mais ideológica nas mãos de Michael Bay, o primeiro nome a vir à cabeça quando se pensa nas histórias de veículos que adquirem a forma de gigantescas estruturas autômatas e vice-versa, prontos para se engajar numa batalha mais e mais encarniçada por poder e subjugação, continua a aplicar o que dera certo nos longas anteriores, contando sempre com a afinação do elenco.
Os filmes de Bay atribuem a criaturas extraterrenas o destino do homem, e assim, convenhamos, é grande a tentação de se pensar que o melhor seja mesmo entregar nossos destinos nas mãos de máquinas que criamos, mas que nunca iremos conhecer, e nesse intervalo quanto retrocesso não cabe a favor dessas estruturas antes ridiculamente diminutas, aumentando de tamanho de peso e tamanho como se emulassem nosso desenvolvimento? Ninguém exige de tramas de ficção científica que se tolha a criatividade do roteiro de Ehren Kruger a fim de acomodar todas as reivindicações de cunho lógico de um público que vai amá-las desde o início e, por óbvio, comprar a ideia, qualquer que seja. Aqui, Autobots e Decepticons batem-se pela hegemonia de um planeta arrasado, e mais uma vez o maniqueísmo do diretor se faz presente, comprometendo o resultado final em boa medida.
Se antes, na Inglaterra do Medievo (476-1453), uma batalha campal selava o destino dos homens e soldados morriam pelo rei Artur, mas desdenhavam de Merlin, que para eles não passa de um charlatão, agora há que se abdicar dos delírios e cair na real. O diretor romper o mote central, com uma gigantesca estrutura metálica chocando-se contra a superfície lunar, o primeiro dos diversos focos de aborrecimento a coroar o trabalho de Bay, pretensioso como nunca. Sam Witwicky e Carly, o par antirromântico elaborado por Shia LaBeouf e Rosie Huntington-Whiteley, salva a pátria em muitas ocasiões, mas este é um filme para iniciados.
★★★★★★★★★★