544 dias no Top 10 mundial do Prime Video: romance baseado em best seller com 300 milhões de cópias vendidas deixou as pessoas obcecadas Divulgação / Prime Video

544 dias no Top 10 mundial do Prime Video: romance baseado em best seller com 300 milhões de cópias vendidas deixou as pessoas obcecadas

O amor, por natureza, desafia a lógica. Seus caprichos draconianos tornam-se ainda mais implacáveis quando paira sobre relações que transcendem convenções, pedindo coragem para enfrentar barreiras invisíveis, porém impenetráveis. Essa premissa é central em “Minha Culpa”, longa dirigido por Domingo González, que se aventura em terrenos delicados ao sugerir que o amor não floresce sem conflito. Em sua estreia, o diretor espanhol acerta ao explorar as nuances íntimas de seus personagens, mas escorrega ao tentar sugerir modelos de conduta, especialmente considerando que a moralidade rígida não é característica marcante no microcosmo onde sua narrativa se desenrola.  

A vida é um enigma, mas o amor se destaca como seu mistério mais intrincado. Duas vidas independentes, frequentemente em direções opostas, que, de repente, convergem em um ponto comum, transformando uma rotina cinzenta em um espetáculo vibrante de cores e novas perspectivas. É exatamente essa fagulha que Noah, interpretada por Nicole Wallace, busca, mesmo sem saber onde começar ou quem será seu príncipe inesperado. No entanto, antes de encontrar respostas, ela precisa encarar os fantasmas que ameaçam seu caminho.  

A primeira etapa dessa jornada se dá com uma mala roxa abarrotada de lembranças  — algumas doces, outras amargas. O roteiro de González, baseado no primeiro volume da trilogia de Mercedes Ron, espalha indícios de que há algo de perturbador naquele ambiente. Essa suspeita se intensifica com a chegada de Rafaella, a mãe de Noah, interpretada por Marta Hazas, cuja vilania é involuntária, mais fruto de uma inconsequência camuflada do que de intenções maliciosas. Ao levar a filha para seu lar opulento com William Leister (Iván Sánchez), a aparente perfeição do cenário é rapidamente confrontada pela inadequação de Noah, que vacila entre deslumbre e repulsa diante da nova realidade. Nicole Wallace traduz essa tensão com precisão, expressando um misto de desespero e raiva reprimida.  

Essa nova vida não é apenas luxuosa, mas também insuportavelmente artificial, povoada por figuras soberbas e fúteis. Ainda assim, a hostilidade inicial de Noah dá lugar a algo inesperado: uma inquietação emocional que começa a se manifestar, especialmente quando sua convivência forçada a aproxima de Nick, seu meio-irmão, vivido por Gabriel Guevara. A conexão entre eles é meticulosamente construída, um equilíbrio entre o proibido e o inevitável.  

Do segundo ato até o desfecho, González intensifica a tensão ao desenvolver não só o relacionamento central, mas também subtramas mais densas. Destaque para Fran Berenguer como Ronnie, líder de uma gangue, cuja presença excêntrica nos círculos da elite reforça a dualidade entre poder e decadência moral. No entanto, é o relacionamento entre Noah e Nick que domina o enredo, revelando que “Minha Culpa” revisita um tema clássico: a sedução perigosa das emoções proibidas, numa releitura moderna do espírito de “As Ligações Perigosas” de Choderlos de Laclos.  

González oferece uma visão envolvente e provocativa, embora limitada, sobre as complexidades do amor e da identidade. Enquanto ele acerta ao dar vida a personagens cativantes, o filme tropeça ao tentar encontrar equilíbrio entre sua narrativa emocional e o desejo de moralizar. “Minha Culpa” desafia e intriga, mas, acima de tudo, prova que, no amor, nem tudo é tão simples quanto parece.

Filme: Minha Culpa
Diretor: Domingo González
Ano: 2023
Gênero: Drama/Romance
Avaliaçao: 6/10 1 1
★★★★★★★★★★