Faroeste com Margot Robbie e Finn Cole que você nunca viu, mas deveria, no Prime Video Divulgação / GEM Entertainment

Faroeste com Margot Robbie e Finn Cole que você nunca viu, mas deveria, no Prime Video

Durante a Grande Depressão, um abismo de miséria tragou os Estados Unidos. Iniciada em 1929 e prolongada pela década de 1930, essa era de desespero viu 25% da população sem emprego, sobrevivendo na beira do colapso. Famílias inteiras, em outros tempos sonhadoras, viram-se esmagadas pela pobreza. É nesse cenário de poeira e sonhos despedaçados que Nicolaas Zwart ambienta “Dreamland: Sonhos e Ilusões”, conduzindo os espectadores a uma jornada entre a brutalidade da realidade e o desejo de fuga.  

Eugene Banks (Finn Cole) e Allison Wells (Margot Robbie) são as figuras centrais dessa narrativa árida e cativante. Eugene, um jovem texano de 17 anos, sufocado pela monotonia de sua vida rural, carrega no peito a aspiração de abandonar a pequenez de seu mundo em busca de liberdade. Já Allison, uma ladra de bancos marcada pela tragédia, surge como um sopro de caos em meio à vida previsível de Eugene, apresentando a ele a possibilidade de uma vida fora das amarras.  

A trama se inicia no celeiro da fazenda da família de Eugene, um refúgio improvisado para a criminosa ferida. Ela não é apenas uma mulher em fuga, mas um símbolo das incertezas que a própria América enfrenta. O jovem, que vive com a mãe, o padrasto e a irmã caçula, vê em Allison uma versão da vida que sempre desejou: arriscada, imprevisível, livre. Nesse primeiro encontro, já se delineia o fio condutor da narrativa: o embate entre os ideais românticos de Eugene e a dura realidade de Allison.  

Os dias passam, e o relacionamento entre os dois se transforma. O cuidado inicial dá lugar a uma amizade hesitante, permeada por desconfianças. Eugene, fascinado e dividido, passa a questionar Allison à medida que ouve rumores e lê os jornais, onde ela é retratada como uma criminosa impiedosa. Allison, por sua vez, nega qualquer envolvimento nas atrocidades e transfere a culpa ao comparsa que desapareceu, manipulando habilmente as dúvidas de Eugene para manter sua proteção.  

O encanto se transforma em um perigoso jogo emocional. Eugene, agora profundamente enredado pelos encantos de Allison, se vê cada vez mais afastado de sua realidade familiar. O amor que floresce entre eles ecoa o casal infame Bonnie e Clyde, mas aqui a linha que separa o heroísmo da vilania é tênue. O roteiro de Zwart explora esses dilemas morais, desafiando o público a questionar o que é justiça em tempos tão sombrios.  

A estética visual de Lyle Vincent é uma extensão dessa narrativa: tons terrosos e desbotados pintam a tela com a aspereza da terra e das vidas que nela se arrastam. A luz dura e a paleta seca não apenas emolduram o cenário, mas comunicam as feridas invisíveis de seus personagens. A atmosfera desolada é uma metáfora para o sufocamento emocional, onde sobrevivência e sentimento não coexistem facilmente.  

O filme desafia as convenções do western, entregando uma narrativa menos preocupada com ação e mais com as motivações internas de seus protagonistas. Não há vilões ou heróis evidentes, apenas seres humanos lutando por migalhas de esperança em um mundo despido de piedade.  

“Dreamland” é um retrato poético de uma época brutal, onde amor e desespero são forças que colidem. A relação entre Eugene e Allison não é apenas uma fuga literal, mas um grito contra as amarras sociais que aprisionam sonhos. No final, o espectador é deixado com uma questão inquietante: até onde a fome por liberdade pode nos levar?  

Assim, Nicolaas Zwart, junto à direção precisa e à atuação impactante de Robbie e Cole, entrega uma obra que pulsa entre o romance e o desespero, desafiando o público a enxergar beleza mesmo na mais crua das realidades. Uma obra de arte que transita entre a ilusão e a verdade, entre a escassez do dinheiro e a aridez do coração, mostrando que, em tempos de crise, amar é um ato de resistência.

Filme: Dreamland: Sonhos e Ilusões
Diretor: Miles Joris-Peyrafitte
Ano: 2019
Gênero: Drama/Faroeste/Policial/Romance
Avaliaçao: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★
Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.