Entre os gigantes de Hollywood, poucos sabem combinar ambição comercial e narrativa marcante com tanta maestria quanto Steven Spielberg. Seja ao introduzir alienígenas empáticos em “E.T. — O Extraterrestre” (1982), imaginar robôs com alma em “A.I. — Inteligência Artificial” (2001) ou desenterrar segredos milenares com o icônico Indiana Jones, sua visão sempre misturou ciência e emoção. Essa fórmula, porém, passou por uma transformação. “Jurassic World: Domínio” é um exemplo desse respiro, onde o DNA de Michael Crichton, embora diluído, não foi esquecido. Colin Trevorrow, diretor dessa nova fase, aceita o desafio de atualizar o legado spielberguiano, introduzindo novos personagens e tramas que enriquecem o universo dos dinossauros geneticamente recriados.
Trevorrow aposta em um frescor nostálgico que remonta à sensação de fascínio que marcou “Jurassic Park” (1993). A trilha sonora de Michael Giacchino resgata a grandiosidade de outrora, evocando memórias adormecidas de jovens que cresceram com a franquia. No entanto, agora, a narrativa vai além da simples maravilha pré-histórica, explorando dilemas éticos contemporâneos. Claire Dearing (Bryce Dallas Howard) e Owen Grady (Chris Pratt) lideram o elenco, mas o retorno de veteranos como Ian Malcolm (Jeff Goldblum), Ellie Sattler (Laura Dern) e Alan Grant (Sam Neill) proporciona um duelo de gerações que movimenta o enredo.
O ponto alto está na forma como Trevorrow e os roteiristas Emily Carmichael e Derek Connolly manejam a tensão. Cenas aparentemente triviais se transformam em experiências eletrizantes. Embora “Jurassic World: Domínio” careça da intensidade filosófica de “Jurassic Park — Parque dos Dinossauros” (1993), sua abordagem sobre manipulação genética e convivência entre espécies continua pertinente. A presença de Owen como figura central, além de oferecer uma nova camada de carisma, traz questionamentos que reverberam: até onde vai o limite ético na ciência?
Apesar das críticas sobre a falta de ousadia em inovar, a franquia segue fiel ao seu princípio autorreferencial. Se Spielberg trouxe à vida a ideia de que dinossauros podiam coexistir com humanos em tela grande, Trevorrow reinventa essa coexistência para uma audiência que já não se deslumbra tão facilmente. “Jurassic World: Domínio” não busca apenas entreter, mas provocar reflexões sobre as consequências das nossas escolhas tecnológicas e a fragilidade do controle que julgamos ter sobre a natureza.
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