Steve McQueen, consagrado mundialmente ao receber o Oscar de Melhor Filme por “12 Anos de Escravidão” em 2014, solidificou sua posição como um dos mais brilhantes cineastas da atualidade. Sua filmografia é marcada por narrativas intensas e personagens que enfrentam dilemas morais profundos, refletindo angústias existenciais e a complexidade humana. Antes de sua obra-prima vencedora do Oscar, McQueen já havia atraído a atenção da crítica com “Hunger” (2008), um retrato visceral da greve de fome liderada por Bobby Sands, membro do Exército Republicano Irlandês (IRA). Em seguida, “Shame” (2011) consolidou sua parceria com Michael Fassbender, mergulhando na jornada de um homem consumido por um vício autodestrutivo, onde a busca por prazer é corroída por um vazio implacável.
O ápice de sua carreira veio com “12 Anos de Escravidão”, uma adaptação crua e tocante das memórias de Solomon Northup, um homem negro livre sequestrado e vendido como escravo no sul dos Estados Unidos do século 19. A obra transcendeu o simples relato histórico, revelando de maneira contundente as feridas profundas deixadas pela escravidão e expondo as brutalidades de um sistema fundamentado na supremacia racial. Premiado com o Oscar, o Globo de Ouro e o BAFTA, o filme transformou McQueen em um ícone do cinema contemporâneo, cuja capacidade de emocionar e provocar reflexões sociais é inquestionável.
Em 2018, McQueen trouxe “Viúvas”, um thriller eletrizante protagonizado por Viola Davis. O longa explora a trajetória de mulheres que, após a morte de seus maridos em um assalto mal-sucedido, decidem concluir o plano criminoso. Mais do que um simples filme de ação, “Viúvas” aborda temas como empoderamento feminino, corrupção e a linha tênue entre justiça e vingança, consolidando o cineasta como um contador de histórias sociais e humanas, mesmo em contextos de alta tensão.
Sua mais recente obra, “Blitz”, leva o público ao cenário sombrio da Inglaterra durante a Segunda Guerra Mundial, narrando a separação de Rita, interpretada por Saoirse Ronan, e seu filho George, vivido por Elliot Heffernan, durante os devastadores bombardeios nazistas. A jornada de George, que escapa de um trem para buscar a mãe, revela a crueza de uma nação em guerra, onde a moralidade se dissolve diante da luta pela sobrevivência. Rita, por sua vez, equilibra sua resistência ao regime nazista com o desespero materno, usando sua posição em uma fábrica para lutar contra a opressão enquanto lida com a incerteza sobre o destino do filho.
Embora a trama remeta ao tom emocional de “Jojo Rabbit”, “Blitz” evita cair completamente no sentimentalismo previsível, graças às atuações envolventes de Ronan e Heffernan. Ronan, cujo nome já circula como uma das favoritas ao Oscar de 2025, entrega uma performance intensa e autêntica, equilibrando emoção e força. Sua atuação em “Blitz”, somada ao sucesso de “The Outrun”, reafirma sua presença como uma das atrizes mais brilhantes de sua geração.
Apesar do impacto emocional, “Blitz” poderia se beneficiar de uma abordagem narrativa mais profunda. Ainda assim, o filme deixa uma marca significativa na trajetória de McQueen, destacando-se por sua exploração da resiliência humana em tempos de guerra e pela maneira como desafia o público a refletir sobre esperança em meio ao caos. A obra não apenas celebra a coragem, mas também ressalta a necessidade de preservarmos nossa humanidade, mesmo diante das mais cruéis adversidades. Com “Blitz”, McQueen reafirma sua capacidade de mesclar cinema e reflexão social, enquanto Ronan se consolida como um dos grandes nomes a serem observados nas próximas premiações.
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