128 dias no Top 10 do streaming mundial: o filme de Guy Ritchie que ninguém conseguiu parar de assistir em 2024, no Prime Video Divulgação / Lionsgate Films

128 dias no Top 10 do streaming mundial: o filme de Guy Ritchie que ninguém conseguiu parar de assistir em 2024, no Prime Video

A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) permanece como um poço inesgotável de narrativas, cada uma mais intrigante que a outra. Sob a superfície sombria de um dos capítulos mais trágicos da humanidade, emergem histórias que, além de macabras, também surpreendem pelo humor inusitado envolvendo vilões e pela coragem inabalável dos heróis que marcaram a época. “Guerra sem Regras”, o mais recente trabalho de Guy Ritchie, é um exemplo dessa pluralidade de versões sobre eventos históricos, retratando-os com um toque de ousadia cinematográfica.

O roteiro, coescrito por Ritchie, Arash Amel, Eric Johnson e Paul Tamasy, é uma adaptação livre e intensa da obra “Churchill’s Secret Warriors: The Explosive True Story of the Special Forces Desperadoes of World War II” (2014), de Damien Lewis. Contudo, o filme também dialoga com outro título, “The Ministry of Ungentlemanly Warfare” (2015), de Giles Milton, cuja referência é explícita no título original da produção. Ambas as obras literárias se debruçam sobre os feitos pouco convencionais de um grupo clandestino que operava sob ordens de Winston Churchill, mas o filme vai além: transforma essas memórias em uma narrativa visceral, repleta de ação, contradições e uma boa dose de exagero estilístico.

Para embarcar nessa jornada sem tropeços, é necessário que o espectador aceite as liberdades criativas do diretor e ignore certos lapsos cronológicos. Por exemplo, a trama se desenrola em janeiro de 1942, quando Churchill (vivido por Rory Kinnear) clama pela entrada dos Estados Unidos no conflito. Historicamente, o ataque a Pearl Harbor — que precipitou a participação americana — ocorreu em dezembro de 1941. Cobrar precisão histórica aqui, portanto, é desnecessário.

No início do filme, vemos Churchill comunicando-se via rádio com um grupo de agentes liderados por Gus March-Phillips (1908-1942), interpretado por Henry Cavill, em uma performance notável. March-Phillips, um oficial da reserva britânica, comanda uma equipe que combina habilidade e brutalidade. Seus aliados incluem Freddy Alvarez, especialista em explosivos (Henry Golding); Anders Lassen (1920-1945), um sueco mestre em armas brancas (Alan Ritchson); Geoffrey Appleyard (1916-1943), o versátil estrategista (Alex Pettyfer, cuja discrição beira o perturbador); e Marjorie Stewart (1919-2012), uma espiã judia movida por perdas pessoais. O grupo é reforçado por Richard Heron, um nigeriano que administra um bar-cassino na ilha de Fernando Pó (atual Bioko), onde o enredo culmina em uma missão arriscada para destruir um navio alemão abastecedor de U-boats.

A narrativa, reconhecidamente mirabolante, aposta em personagens intensos para sustentar seu ritmo. Enquanto o núcleo de March-Phillips rouba a cena, figuras secundárias como Eiza González e Babs Olusanmokun competem pela atenção do público, entregando performances que complementam o caos orquestrado. O filme flerta com referências cinematográficas como “Bastardos Inglórios” (2009) de Quentin Tarantino e “Os Doze Condenados” (1967) de Robert Aldrich, mas, fiel ao estilo de Ritchie, rapidamente desvia para o inesperado. Um dos momentos mais surreais reúne Stewart e o general nazista de Til Schweiger entoando “A Ópera dos Três Vinténs” de Kurt Weill e Bertolt Brecht, um toque irônico que reforça a crítica aos ideais do Terceiro Reich.

No fim, “Guerra sem Regras” mantém a tradição de exaltar os heróis e expor os vilões à derrocada inevitável. A obra é, ao mesmo tempo, um espetáculo de ação estilizada e um lembrete de que, em tempos sombrios, a criatividade e a audácia podem encontrar seu próprio campo de batalha.

Filme: Guerra sem Regras
Diretor: Guy Ritchie
Ano: 2024
Gênero: Ação/Comédia
Avaliaçao: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★