Pode-se dizer muito sobre uma pessoa tomando-se por análise quantas vezes ela se apaixonou ao longo da vida. Quando a paixão é intensa, o amor não tarda a florescer, como a rosa num campo antes ressequido dos ventos da estiagem, e se o amor é verdadeiro, não demora a vir uma torrente de sinais de toda sorte, inclusive aqueles tornados obsoletos na era da comunicação instantânea e dos laços tão voláteis quanto tóxicos, para empregar uma palavra do vocabulário hodierno. “O Natal Volta para Casa” insiste no argumento que reza que cada amor tem seu lugar na eternidade, mesmo que não consiga vencer o passar dos anos, exatamente como diz muito bem Vinicius de Moraes (1913-1980), gênio e um especialista no assunto, em seu “Soneto de Fidelidade” (1946). O amor, em sendo chama, não pode ser imortal, mas pode ser infinito enquanto os amantes se amarem, e o diretor Michael Rohl volta a dias de pouco entendimento entre os homens para sustentar que laços que foram estreitos na Terra permanecem estreitos em quaisquer outras dimensões. E inspiram os romances que hão de vir.
Caroline Upton, uma major da reserva que agora leciona história militar, segue sua vida dando total ênfase ao trabalho e à possibilidade de uma bolsa de mestrado em Londres. Caroline oculta um trauma, que o roteiro de Ali Spuck e Casie Tabanou destrincha com mais tardança no início do terceiro ato, mas até que esse momento venha, o enredo bifurca-se e ilumina Russell Carlisle, sócio de um antiquário com a irmã, Jules. A disposição episódica do longa, característica dos filmes para a televisão, prejudica o ritmo da história em algumas ocasiões, mas a unidade do elenco, sobretudo da dupla de protagonistas, garante o andamento da narrativa sem nenhuma grande perda.
Deb Wrightwell, a vizinha de Russell interpretada por Marlee Walchuk numa participação tão breve quanto magnética, quer desocupar a garagem para suas aulas de country, e põe à venda um lote de suvenires herdados da tia, pelos quais ele se interessa. Algo misteriosamente, surge em meio àquele monte de quinquilharias uma caixa com a farda de um tal Orin Newton, combatente da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) morto em ação, e as missivas que recebera de Alice, a namorada que jamais deixou-se vencer pelo desespero e continuava a sonhar com seu retorno.
A aproximação gradual entre Caroline e Russell termina, claro, no caso de amor de duas almas feridas que curam-se juntas, mas só depois de superarem assuntos colaterais que vão muito além de guirlandas de visco e um provecto duende a enfeitar uma árvore de Natal suntuosa. Jill Wagner e Paul Greene, nessa ordem, são hábeis em explorar as zonas nebulosas de seus personagens, sempre permitindo que venham à tona sorrisos doces e olhares furtivos. Exatamente como Orin e Alice oito décadas antes, e como farão sempre os amantes de todas as épocas, lícitos ou não.
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