O filme que virou um vício global: 5 bilhões em bilheteria e 391 dias no Top 10 Divulgação / Upi

O filme que virou um vício global: 5 bilhões em bilheteria e 391 dias no Top 10

Entre o frenesi característico da franquia “Velozes e Furiosos” e uma abordagem que flerta com a liberdade criativa, “Hobbs & Shaw”, dirigido por David Leitch, escapa do molde tradicional dos filmes anteriores. Posicionado temporalmente entre “Velozes e Furiosos 8” (2017), de F. Gary Gray, e “Velozes e Furiosos 9” (2021), comandado por Justin Lin, este spin-off abraça uma zona cinzenta de inovação que o desobriga de seguir rigidamente os protocolos narrativos estabelecidos ao longo dos 23 anos da saga. Essa liberdade criativa permite ao diretor explorar de forma mais profunda as tensões morais dos personagens centrais, equilibrando os tons cômicos com a intensidade que a franquia exige. Sob o roteiro bem-humorado de Chris Morgan, Drew Pearce e Gary Scott Thompson, os diálogos se tornam um palco para trocadilhos inusitados, conferindo um charme especial às interações entre dois protagonistas de personalidades fortes, forçados a superar suas diferenças por um objetivo comum.

A trama se constrói sobre o clássico arquétipo de rivalidade que se transforma em parceria, com Jason Statham (Deckard Shaw) e Dwayne Johnson (Luke Hobbs) entregando performances que oscilam entre a força bruta e momentos de vulnerabilidade. A química entre os dois sustenta o enredo, que ganha força à medida que a ameaça central se torna palpável, obrigando-os a unir forças em uma jornada de ação frenética e cheia de reviravoltas. Essa dinâmica, por vezes caricata, é elevada pelo equilíbrio cuidadoso entre humor, drama e adrenalina, mantendo o espectador cativo.

Enquanto “Velozes e Furiosos 9” se apoia no retorno de Vin Diesel como Dominic Toretto, enfrentando desafios tanto pessoais quanto mecânicos — incluindo uma disputa que ameaça sua supremacia na pista devido a imprevistos como óleo na curva e a presença de um velho rival, Kenny Linder —, “Hobbs & Shaw” escolhe um caminho mais introspectivo dentro de sua grandiosidade. Ao invés de se limitar a perseguições explosivas e acrobacias automobilísticas quase impossíveis, o filme se aventura por territórios que sugerem até reflexões filosóficas. É uma aposta ousada, mas que confere à produção uma identidade única.

O filme também encontra espaço para referências culturais inesperadas, como ao visual distópico e carregado de “Blade Runner 2049” (2017), de Denis Villeneuve. Essa ligação não é superficial; assim como a sequência de Villeneuve revisita e ressignifica o universo criado por Ridley Scott em “Blade Runner” (1982), “Hobbs & Shaw” propõe um diálogo com o próprio legado da franquia “Velozes e Furiosos”. Longe de desmerecer o material original, o filme reconhece sua importância enquanto se reinventa, destacando-se como um produto de seu tempo e contexto sociopolítico. Essa releitura ganha ainda mais força com as atuações marcantes de Idris Elba, como o vilão ciberneticamente aprimorado Brixton, e Vanessa Kirby, que brilha como a habilidosa agente Hattie Shaw. Juntos, eles ampliam o escopo da narrativa, contribuindo para um espetáculo visual que, embora estilizado, mantém um senso de urgência e credibilidade.

Em suma, “Hobbs & Shaw” é um “Velozes e Furiosos” que ousa ser diferente. Sob uma camada de humor e ação desenfreada, o filme esconde uma narrativa que resgata temas universais de parceria e superação. Ao mesmo tempo, homenageia sua linhagem enquanto rompe barreiras, consolidando-se como um capítulo indispensável para fãs da franquia e apreciadores de cinema de entretenimento inteligente.

Filme: Velozes e Furiosos: Hobbs & Shaw
Diretor: David Leitch
Ano: 2019
Gênero: Ação/Aventura
Avaliaçao: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★